Olho Mágico
Minha porta é um ciclope,
Seu olho na fronte,
Observa dando enfoque,
Capta dia e noite, insone.
Olho mágico,
Eu vejo o mundo,
Mas não sou visto ao contrário,
Preservado, um sujeito oculto.
Prendo meu olho nesse outro olho,
Vendo o que passa na frente da lente,
Retorcida imagem que absorvo,
Nessa vigilância deixo de ser gente.
Máquina privada,
Que capta o público,
Torna a forma engraçada,
Distorce enquanto uso.
A pessoa de fora é apreendida,
Desconfortável estado de ser captado,
Sabe que está sendo vista,
Talvez não tenha ninguém do outro lado.
A dúvida do ser ou não ser visto,
A sensação de privacidade invadida,
Olhada sem retribuir o gesto escondido,
Nua diante do olhar atrás da porta passiva.
A magia está nesse truque,
Um pequeno espaço entre um ser e outro,
Feito mágico artifício que ilusionista use,
Quase ouve a respiração se colar o rosto.
Porque apenas um olho em vez de vários?
Aquele ponto que parece um cu em cima,
Segurança para o misterioso proprietário,
Curiosidade também da possível visita.
Quem está dentro hesita,
Receio de ser visto pelo de fora,
A porta parece camada fina,
Prende a respiração na mesma hora.
Magia branca que se torna negra,
Era para oprimir o visitante,
Acaba afetando o visitado que espreita,
Horror em ambos os participantes.
Quando a opressão panóptica é reversiva,
O vigilante sente que pode ser vigiado,
Dentro e fora deixam passam a ter simetria,
De repente a vítima se torna carrasco.
Não é um olho que tudo vê,
Vendo uma fração,
Acaba por perceber,
È outro fragmento dessa relação.
Onde são peças de quebra-cabeça,
Espatifadas em cacos de vidro,
Cortando a ilusória certeza,
Espetando o cérebro já doentio.
Poder de força ótica,
Com foco que se inverte,
Camaleão de vista rotatória,
Volta-se contra o próprio mestre.
Olho de Mefistófeles que cobra seu preço,
Promete assegurar os desejos faustosos,
Depois o aprisiona no seu próprio medo,
Criando uma dependência entre não amistosos.
Sísifo que sempre irá espionar,
Por mais que volte às cegas ao olho retirar,
Mecânica que cumpre um ciclo de buscar,
Repete o temor do outro olhar com que irá se deparar.
Voyeurismo caolho,
Instrumentalizado por técnica de porteiro,
Lente que serve de óculos para deficiente rosto,
Todos os dias no seu torto e oftálmico roteiro.