Amor Ferido
Te amo de forma aberta,
Ferida exposta na pele,
Mesmo que te achem indigesta,
Irei adorá-la da forma que se deve.
Aprecio suas maneiras purulentas,
Escorrendo amarelecida,
Alegrando-me com sua ética pestilenta,
Vazando pra vida.
Primeiro é cor gritante,
Mudando de tonalidade,
Arco-íris horrorizante,
Caleidoscópio de brutalidade.
Cresce num inchaço doentio,
Aumentando seu volume,
Tumor de caráter mole ou rígido,
Evolui em mórbido costume.
Depois arrebenta,
Expõe de forma dilacerante,
Demonstra sua forma nojenta,
Liquefaz numa esperança cicatrizante.
Escorro contigo nessa anormal aquarela,
Diluindo em meio a estados perecíveis,
Unidos nessa dolorosa brecha,
Expelidos como banimento merecido.
Solidifico os sentimentos,
Crio casca protetora,
Tez que engrossa em dado momento,
Cápsula que resguarda com bela pletora.
O sangue vivo se fossiliza,
Escurece num gesto pútrido,
Mesclados em geléia que causa ojeriza,
Machucado que gruda feito musgo.
Despimos camadas antes invisíveis,
Desnudamos nossas entranhas,
Nas moscas despertamos apetite,
Depositam suas larvas com artimanha.
Um esbarrão e rompemos o lacre,
Abrindo o ferimento em processo de cura,
Desejamos que nunca se acabe,
Vivemos esse amor que é eterna fissura.
Quanto mais se espalha,
Sentimos que está evoluindo,
Cobrindo o corpo em massa,
Espetáculo marcas num veloz ritmo.
Esprememos o pus,
Que vaza em orvalho,
Murchando o que o produz,
Tentando secar o magoado.
Seiva grossa de pus e sangue,
Indicando a vivacidade,
Pulsando sem que estanque,
Esquenta com velocidade.
Vermelhidão que parece alérgico,
Paixão que chega ao ponto de estourar,
Deslizando num ato quase colérico,
Não se contentando em dor causar.
Nos amamos sem curativos,
Feito pestilentos amantes,
Manifestamos na carne o atrativo
De um amor que é anticoagulante.