Vozes mudas

Tenho um olho vagabundo e outro ansioso atônito por verdades,

Um enxerga os fundos do mundo, o outro, escondido escuta os detalhes,

A justiça é cega e o amor cheio de tatos,

Os meus dois olhos farejam leis desconhecidas dos advogados.

Palavras de conforto significam tão pouco

Para um sofrimento sem voz nos dicionários,

A dor é tão comprida quanto uma longa avenida

Sem saída e cheia de carros apressados.

Eu vi os apertos de mãos e a intenção de esmagamento,

Eu vi os sorrisos caindo num poço de hipocrisia e constrangimento

Tenho na rotina o detalhe e o esquecimento,

Durmo com sonhos de saudades e lamentos,

E, ainda assim, sou tão passa-tempo,

Louco lúgubre, adormecido no momento.

Outubro/2007

EDUARDO NEGS CASTRO
Enviado por EDUARDO NEGS CASTRO em 28/09/2011
Código do texto: T3245266