Vozes mudas
Tenho um olho vagabundo e outro ansioso atônito por verdades,
Um enxerga os fundos do mundo, o outro, escondido escuta os detalhes,
A justiça é cega e o amor cheio de tatos,
Os meus dois olhos farejam leis desconhecidas dos advogados.
Palavras de conforto significam tão pouco
Para um sofrimento sem voz nos dicionários,
A dor é tão comprida quanto uma longa avenida
Sem saída e cheia de carros apressados.
Eu vi os apertos de mãos e a intenção de esmagamento,
Eu vi os sorrisos caindo num poço de hipocrisia e constrangimento
Tenho na rotina o detalhe e o esquecimento,
Durmo com sonhos de saudades e lamentos,
E, ainda assim, sou tão passa-tempo,
Louco lúgubre, adormecido no momento.
Outubro/2007