Moderna Quimera
Me fita à espreita,
Se enfia em frestas,
A todos rejeita,
Sagacidade de fera.
Observa todo meu ser,
Possui apenas um olho,
Fixo na fronte que se faz ver,
Mas não é Ciclope esse encosto.
Suas mãos terríveis,
São utilizadas como pés,
Não impede de ter quatro membros visíveis,
Mas se recusa a andar de quatro como ralés.
Boca gulosa,
Apetite de presas laminadas,
Batendo a mandíbula nervosa,
É vulto que parece fantasma.
Nome apropriado para invocar,
Duvido que tenha um epíteto,
Praga que sem dizer se faz espalhar,
Avança num ímpeto desmedido.
Explora todas as direções,
Isso tudo sem sair do lugar,
Provoca escandalosas vibrações,
Vórtice que penso irá me sugar.
Pelagem vasta em floresta densa,
Repleta de microorganismos,
Minha visão não enxerga essas hienas,
Nem com microscópio moderníssimo.
Orifício no que parece uma face,
Servindo de narina e ouvido,
Cheira escutando, um disparate,
Quando espirra dificulta o som obtido.
Esse mesmo buraco,
É anal lógico,
Defecando musgo em catarro,
Ecoando em tímpano inglório.
Os pés-mãos ou mãos-pés,
Tortos, modificados pros lados,
Curupira, caranguejo, outra coisa qualquer,
Faz-se de labirinto ao ser movimentado.
Sua boca oscula,
Pois é cu, ouvido, nariz,
Fossa única que perdura,
Beijo de excremento infeliz.
A língua está fora do bucal,
Serpente que serve de adorno,
Anda feito verme infernal,
Não tem lugar certo no corpo.
Cabelos que são móveis,
Compondo pelos em cordas,
Alguns empedernidos não se locomovem,
Se reproduzem numa assexuada escola.
Desprovido de unhas,
Nenhum resquício de casco,
Cava esfolando a pele sem rugas,
Liso sem apresentar traços.
Tem genitália convidativa,
Falo e vulva misturados,
Testículos são lábios de vagina,
Clitóris como pênis prolongado.
Menstrua pelo poro,
Assim como goza nesse único hiato,
Que é nariz-ouvido-boca-ânus-vagina-pênis-poro,
Brecha individual num despretensioso emaranhado.
Menstruando se faz orgasmo de fezes suadas em muco,
Sentido mais amplo das famigeradas secreções,
Num expelir de jorrada imensa que vomita de um tudo,
Causando arrepios com deliciosas ereções.
A criatura esquisita,
Se por alguma causa singular,
Fosse fatalmente ferida,
Só sangraria no seu único ponto de escoar.
Mesmo lágrimas,
Ignoro se as tenha,
Só sairiam da fossa universalizada,
Buraco negro que resume o que e o que entra.
O peito composto de um seio,
Formato arredondado com rígidos mamilos,
Também se faz nádega partida ao meio,
Glúteo avantajado de nódulos endurecidos.
Leite produzido sai do mesmo fosso,
Alimento-excretado em seiva purulenta,
Já que expulsa inflamações em vivo desgosto,
Caleidoscópio de substâncias pestilentas.
Sua prole maldita que consegue nascer,
Jamais deve provar o familiar alimento,
Mesclado ao líquido que faz em vigor crescer,
Está um chorume viscoso que é veneno.
Nudez de aberração visual,
Estética dionisíaca,
Figura de aspecto desproporcional,
Tachada de besta demoníaca.
Devora suas presas com modos inabituais
Sugando pela fresta que se molda em ventosa,
Em sincronia regurgitando os restos mortais,
Inaturável quando algo de fora lhe adentra.
Daí a necessidade insaciável,
Natureza insustentável,
Monstruosidade abominável,
Faz-se ente alienável.
Máquina insuficiente,
Maleável para recrutar,
Eternamente deficiente,
Seu pilar destrutivo não é salutar.
Rola embolando rotas,
Protheus fajuto que seduz,
Finge que a todos ignora,
Subitamente ataca e reduz.
Praga pragmática,
Viola violentando vivos,
Risada seca, sarcástica,
Tossindo tumores cítricos.
Sorriso banguelo,
Repleto de pregas, mucosas,
Dependente patético,
Espécie produtivamente desastrosa.
Tenta emitir sons,
Mas pigarreia ao secretar,
Um quase sopro de roncos,
Resultando vômito-leite-porra-suor-sangue-menstruo-lágrima-catarro-pus-mijo-merda-cuspe-metastasear.
O cérebro da anomalia,
Possui córtex ligando o fim do abismo,
Interligando essa esquizo-bizarria,
Suicidando-se sem ter nunca haver concebido.