Antes Só
Nos dizeres habituais,
Profere-se a sentença,
“Antes só do que mal acompanhado”,
Ouvimos com indiferença,
Faz de nós sujeitos de egos solitários.
Parece redundância falar de ego só,
Mas ao pensar na necessidade de outrem,
Até para conceber um eu sozinho,
Nossa natureza se faz altaneira,
Tudo deve se curvar diante de nosso ser mesquinho.
Mas estar solitário,
Sem companhia desagradável,
Não garante bem estar,
Muitas vezes é menos agradável,
Do que com outros socializar.
Conviver consigo,
Esse é o grande tormento,
Sarte, “o inferno são os outros”,
Só que esses outros nós criamos,
Refletem esse pesadelo que somos nesse jogo.
O que adianta estar sem companhia alheia,
Presos nessa presença nossa,
Sem desprender do carrasco íntimo,
Mergulhados nesse ego que é outra coisa,
Psico-análise que nos faz doentios.
Herança freudiana de um paternalismo,
Ainda nos desdobrando em tríade psicanalítica,
Voltaremos a esse Um oprimido,
A batalha é travada, enquanto os de fora, pouco interferem,
Por nossa própria essência somos conduzidos.
Antes só, durante só, depois só,
Mas continuo seguido por alteridades,
Simulacros que corrompem-me em alienação,
Sou minha própria má companhia,
Como cada um carrega sua própria assombração.
A frase deveria ser,
“Mal, seja só ou acompanhado”,
Devemos conviver com nosso lado inimigo,
Aquele amigo competitivo que fiel,
Sabedor do nosso assujeitamento desmedido.
Antes mal, durante mal, depois mal,
Por termos uma moralização mutilada,
Só enxergamos uma face e temos a mesma,
Como maldita condição vivente,
Sendo que junto com a revelada, faz de nós, pessoas inteiras.