Vão-se os Dedos

O dito popular,

Sentecia,

Vão-se os anéis,

Ficam os dedos,

Proponho o revés.

Se antes fossem,

Os dedos anelares,

Adereços permanecendo,

Enquanto membros,

Perdidos, mutilados em partes.

A palma contempla,

Os adornos sem uso,

Auréolas sem cabeça,

Objetos em desuso,

Sem quem os enalteça.

Os dedos perdidos,

Mãos incompletas,

Sem movimentos de falanges,

Cerrados rente a raiz da palma,

Aleijados por fúrias cortantes.

Nada mais a apontar,

Só com meneio de cabeça,

Indicar só olhando,

Dedo em riste nunca mais,

Só resta tapa espalmando.

Sem agarrar,

Movimento de pinça escasso,

Abrir e fechar é um fardo,

Só pode empurrar,

Move com empurrado embaraço.

Faz de pulseiras,

Anéis de pulso,

Torna o braço um dedo,

Grande obelisco carnal,

Único, comprido, inteiro.

Batem palmas,

Sem entrelaçar,

Pancadas de sonoridade seca,

Aplauso deficiente que é eficiente,

Ecoa em ouvidos de mãos inteiras.

O dedo médio em xingamento,

Agora só uma “banana” de braço,

Soco trocado por palmada,

Carícias de pontas por toque esparramado,

Corpo de natureza dilacerada.

É toco, cotoco, pedaço,

Carne despedaçada,

Buscam a falta,

Encontram algo no lugar,

Uma anômala forma.

Nada de mão sem dedos,

Sim de dedos sem aquela mão,

Perdidos em algum labirinto,

Soltos por falta daquela que conduz,

Fragmentos do horrendo equívoco.

Estes anéis são a prova concreta,

Aguardando os corpos que lhes vestem,

Indumentária aguardando fantasmas errantes,

Mortalha majestosa conservada,

Reduto fóssil de ausentes com presença cativante.