Sombra
Sombra querida,
Falam mal de ti,
Tratam-na de malígna,
Que põe no bem o fim.
Comparam com trevas,
Das negras demoníacas,
Racismo enrustido que revela,
Preconceitos de cores e etnias.
Dizem que é maldosa,
Mas se faz acolhedora,
Quanto o sol que toca,
Queima a pele sofredora.
Dá conforto e alívio,
Mesmo aos que a difamam,
Quem não a quer no deserto cítrico,
Refrigerando almas que abanam.
De noite é plena,
Sombra de costas ao astro solar,
Se faz de noite em farta oferenda,
Dá ao homem motivos para enamorar.
Encobre os olhos iludidos,
Cobertos de luminosidade mentirosa,
Faz ver com coração combativo,
Demonstra sentir de natureza valorosa.
Digo que seu manto negro,
Encanta feito um resquício de Nuit,
Se é diabólica por provocar medo,
Faz-se rainha, não deixe que a mudem.
Realeza dos doces mistérios,
Provocando angústia nos crentes solares,
Instigando amores, velando cemitérios,
Dando novas perspectivas a empedernidos seculares.
Envolvam-me sombras,
Quero ser obscuro,
Enegreça aquilo que encontras,
Torna o luminar defunto.
Afronta a claridade algoz,
Feito mefistofélica arma,
Mostra-nos o declínio do Sol,
Que o lado sombrio não é desgraça.
Num fechar de olhos me toma,
Em sonhos conduz minha mente,
No apagar de luzes me doma,
Quando eclipse, faz-se potente.
Faz vulto de meu corpo,
Sempre a nossa espreita,
Já está dentro de nós. Mesmo morto,
Sentirei suas mãos de ônix perfeitas.