Olhos Fechados

De olhos fechados,

Não vejo nada,

Sinto o olhar calado,

A visão não fala.

Não me vejo,

Olho pra dentro,

Só o escuro percebo,

Faíscas em movimento.

Um lampejo luminoso,

Quem sabe resquício de luz,

Que presenciei antes de fechar o olho,

Agora são sombras com flashs, a isso se reduz.

Fechei a janela da alma pro mundo,

Meu foco se tornou instrospectivo,

Enclausurado nesse possível eu profundo,

Perdido num escuro que parece infinito.

Feito perseanas, as pálpebras desceram,

Renegando o exterior de antes,

Perspectiva dos que interiormente se conceberam,

Fugi dessa exposição visual horripilante.

As coisa jogadas na minha face,

Absorvendo essa estética visualizada,

Minha rebeldia é um disparate,

Não assisto fora, dentro tenho visão aprisionada.

Posso agora estar fora de fato,

Longe desse dentro do mundo,

Sem observar o visor eu calo,

Sons eu capto, ainda escuto.

Peles pesadas feito espessas brumas,

Eclipse que obscure a ótica solar,

Prisão diurna em prol de natureza noturna,

Cárcere de vista em órbita ocular.

Orbitando em pensamentos presos,

Soltos na imaginação de retina cativa,

Sou cego por querer, esse é meu segredo,

Sinto úmido, mas não são lágrimas contraídas.

Os sílios são penugens insinuantes,

Tentam adentrar feito dedos,

Querem abrir essa alcova desterritorializante,

Sou resoluto nesse degredo.

Os pelos dos sílios são linhas,

Que costuram as pálpebras dando pontos,

Com agulha que a ponta risca a retina,

Olhos sepultados em um acordado sono.

Visão morta ou viva idiossincrasia,

Cristalino revirado, agora ônix trevosa,

Córnea rompida e misturada com a pupila,

Nervo ótico sensível, fibras tensas, nervosas.

Escorro feito líquido escuro,

Como de olho de peixe expremido,

Fosso abissal que não vejo o fundo,

Nesse espaço sou lançado e me precipito.

Olhos de morte, tumbas orbitais,

Duas cavidades escuras que se tornam uma,

Um Ciclope sombrio que não se satisfaz,

Olho de Hórus que tudo vê por não ver coisa alguma.

A cortina de um palco que se fecha,

Agora transmitindo bastidores,

Antes ofuscados pela vista platéia,

Ruptura entre transmissores e receptadores.

Um espelho sinistro que te faz um outro se si,

Deslumbrando esse mesmo que emerge,

Outrora não percebido, só que sempre estivera ali,

Não doando se fez totalmente entregue.

Sonâmbulo que percorre seu próprio mistério,

O pesadelo é estar desperto no nebuloso caminho,

Um Tao caótico criando lápides relampejantes nesse cemitério,

Tarô de simbologia contrária, o verso da carta dita o ritmo.

Sem chaves que possam abrir suas portas,

Vendados por pele teimosa em cobrir,

Só o vácuo e as partículas velozes, nada mais importa,

A tentativa de meditar até no Nirvana diluir.

Sou epígono de Moros, vivo o acaso,

Nix e Tiquê copulam no meu epicentro,

Sou um céu de Nuit em orgasmo,

Dionísio veio me saudar com um aceno.

Olho nos meus olhos de revés,

Furo, vazo, penetro, tanspasso,

Mas só consigo projetar através,

Sou refém desses famintos buracos.

Eles que tem por hábito absorver,

Foram absorvidos em si, vou junto,

Tento escapar escalando esse não-ser,

Raspo unhas silias e ali continuo.

Um poço que me envolve,

Sem voz para pedir ajuda,

Masmorra que me resolve,

Ela me visa com face suja.

Metástases proliferam desse cancro,

Espalhando pela alma, [Des]anima,

O falecimento taciturno do pranto,

Édipo desesperado perfurando as vistas.