O Ponto

Um ponto apareceu,

Emergiu entre tantos outros,

Outro de certo desapareceu,

Só observei esse por pouco.

Pode ser um pingo,

De tinta escorrida,

Grafite de motivo rígido,

Marco de referência contida.

A forma seria de circunferência,

Talvez nem tenha formação exata,

Parado nessa posição efêmera,

Insinuante nessa realidade demonstrada.

É uma malha, só vejo um,

Ponto de vista, vista de um ponto,

Leonardo Boff definindo,

Parece prenunciar um curto conto.

Pontualmente anuncia o tempo,

Se for decisivo, é ponto final,

Se pensar no de cima ou baixo, segmentos,

Reticências que tornam usual.

Pontualidade que perfura,

Vaza com seu contraste,

Aparente hiato que usurpa,

Outra dimensão que se abre.

Ponto que é ponte numa dualidade,

Ponto preto em tela branca ou vice-versa,

É cisco numa visão de de vil objetividade,

O buraco da agulha que na mente atravessa.

É uma mira focada,

Meu pensamento tenta se projetar,

Mas é tampa de bueiro fechada,

Com toda a força não consigo empurrar.

Alvo que espera flecha,

A corda do meu arco mal retesa,

No máximo o foco da pupila que fecha,

Prisma que o raio do ponto solar penetra.

Gota, menos que isso,

Átomo, subatômico,

Objeto muito diminuído,

Realidade acordada ou sonho?

Grão de uma poeira localizada,

Planificada nesse território subentendido,

Guerra de alternância declarada,

Rota de fuga pra uns e pra outros abrigo.

Olho cego ou que se faz ver,

Furúnculo inconveniente,

Esse será difícil de expremer,

Um parasita deveras eficiente.

Cabeça de alfinete, microscópico,

Tiro nessa superfície espacial,

Lançamento de um símbolo insólito,

Indica uma passagem, é sinal.

Preenche e se faz preenchido,

Permuta de interno e externo,

Faz volta, sugestivo, rotativo,

Minúsculo que dita o certo.

Vai de um ao outro sem sair de si,

Fixo nessa exposição pontuda,

Relevo numa reta prolongada, sem fim,

Assume uma não recatada postura.

Transborda sem ultrapassar as margens,

Oco preenchido por completo,

Força aprisionante de uma fugidia imagem,

Agravante de domínio seleto.

Cápsula que contém rupturas,

Rompendo em linhas como fissuras,

Criação de alucinante conjuntura,

Cárcere com ventosas de sangue-suga.