Amor Tricotilomânico
Sim, é você que eu quero,
Despedaçada, ou será que devo dizer,
Sem partes do seu capilar teto?
Dessa forma maníaca que irei proceder.
Arranco-lhe os cabelos,
Quero fazer companhia nessa arrancada,
Ver os buracos de falhas refletidos no espelho,
Couro cabeludo falho, uma boa escalpelada.
Aqueles chumaços pelo solo,
Não irão germinar, são estéreis,
Bolinhos de pelos que ignoro,
Ao pisar nessas cabeludas estepes.
Depilar com cera tira o encanto,
Melhor puxar fio a fio,
Entupindo o ralo durante o banho,
A muitos causaria arrepio.
Vem me abraçar com suas garras,
Se apegue a meu peito peludo e o pele,
Vamos nos misturar nessa fiada,
Um tricô de Moiras que não arrefece.
Compartilho seu desespero,
Com pinça despe as axilas,
Puxo da barba os grossos pelos,
Rosto de brechas e feridas.
Vamos nos banquetear,
Ingerir os cabelos retirados,
Sem digerir o que degustar,
Entupidos feito orgânicos ralos.
Entre os dentes fios pequenos,
Beijo gostoso e cheio de fiapos,
Parece ósculo de manga, que suculento,
Nos amamos nesses pedaços.
Num ato oral e sugo os pelos de baixo,
Depilo com pequenas dentadas sua vulva,
Como não perdoará nem mesmo meu saco,
Somos devoradores de qualquer pelagem que insinua.
Ato capilarmente sexual,
Com seus cabelos enrolados em minha mão,
Puxando como rédea animal,
Desprendendo massarocas que caem no chão.
Renegamos os pelos de origem rústica,
Nada de pensar em um lado animalesco,
Matamos Baco mesmo praticando sua luxúria,
Aliens pelados, um espetáculo de filme burlesco.
Depenados, feito frangos após o sacrifício,
Quase em couro feito animais esfolados,
Auto-mutilação é nosso armistício,
Prazer de arrancar, devorar, somos degenerados.
Não teremos um prato de spaghetti,
Feito “A Dama e o Vagabundo”,
Teremos cabelos para sugar com peles,
Ensopados com molho de sangue ao fundo.
Vamos nos embolar, embaraçar,
Só para poder entrelaçar os dedos,
Dessa forma vamos com raiva puxar,
Partindo os fios resistentes ao meio.
O rastro na casa de resíduos capilares,
Parecendo salão de cabeleireiro,
Espalhados ao vento pela cidade,
Chegando nos lares considerados ordeiros.
Não queremos por fim ficar carecas,
Calvície priva do prazer de arrancar,
No máximo deixar entradas na testa,
Somente lacunas que venham incentivar.
Abrem-se feridas, feito cães pustulentos,
Cicatrizes que são símbolos da batalha,
Estamos num constante movimento,
Amor de quem vive de fiadas migalhas.
Se tivéssemos um messias,
O Cristo seria de bom tamanho,
Feito nas fotos com sua cabeleira se submeteria,
O depilaríamos com ódio de algozes profanos.
Que sonho devastar aquele frondoso bigode,
Que nas de Nietzsche se sobressalta,
Deixando seu rosto liso, enquanto nossa má sorte,
Seria um Foucault de cabeça abrilhantada.
Converteremos em serpentes,
Os jardim capilares dos crânios,
Medusa, Satã e nós os repelentes,
Ceifando e colhendo dores e prantos.