Amor Bulimíaco

Te quero toda,

Cheia por inteira,

Recheada, leitoa,

Que assim seja.

Vejo quando tenta esconder,

Aquela glutonaria desenfreada,

Mas a comida é fácil perceber,

Você absorve quantidades notodas.

A boca repleta de comida,

Quase nem consegue mastigar,

Engole tudo de forma repetida,

Causa desespero só de olhar.

O alimento tenta suprir, preenchendo,

Aquela sensação pesada,

Vai se sentindo feito bola por dentro,

Até ficar altamente estressada.

Uma espécie de devoradora,

Usurpando tudo que possa ser engolido,

Depois cai em transe de raiz opressora,

Vem o desespero por tudo que tenha consumido.

Me come junto nessa ânsia louca,

Feito serpente com presa farta,

Antes engasgar-se com minha pessoa,

Para que possa se sentir realizada.

Mas o desejo a seguir é de repulsa,

Expulsa o antes ingerido,

Quer vomitar, por pra fora por essa fissura,

Regurgita com sabor de vitória pelo espelido.

Mas é vitória amarga e ácida,

Antes um refluxo maldito,

Golfa até sair o vômito grosso que a entala,

Vai pra privada e de joelhos reza seu rito.

Ritual demoníaco de expulsão,

Obsediada antes pelo vício de comer,

Agora bane a sua ingrata digestão,

Sente o organismo agredido se contorcer.

O dedo toca a úvula,

Provoca uma masturbação frenética,

Pensa que aquilo é cancerosa pústula,

Quando nada sai, insiste, se faz de cética.

É no banheiro, água do chuveiro pra disfarçar,

Só você vendo a agonia daquele olhar no espelho,

Restos de alimentos para o ralo irão escoar,

Um choro costuma acompanhar o rito e o medo.

Pois pode me expulsar junto,

Aceito ser colocado pra fora,

Não engolido o meu conjunto,

Sendo abortado na próxima hora.

Quero que me tenha no descontrole da ingestão,

Assim como na guerra travada ao expelir,

Compartilhar a alegria e a dor, cada emoção,

Formar com você essa anátema que só faz destruir.

Vou beijar estes lábios vomitados,

Sentir a acidez no gosto de restos,

Puxar sua língua com sabor golfado,

Tocar os dentes sujos, seu hálito incerto.

No segundo beijo sinto o vomitar,

Despeja de boca pra boca,

Eu retribuo sem me atrever hesitar,

Náusea de permuta regurgitadora.

Ósculos molhados pela baba excretora,

Degetos evacuados na oralidade,

Amor bulimíaco que prende, agrilhoa,

Pecado e culpa numa mesma realidade.

Sei que no seu íntimo existe o pecar,

Pois a moralidade faz culpa vindoura,

Num exorcismo tenta o ato remediar,

Possuída por demônios glutões, translouca.

Me faço de possuído também,

Unidos do paraíso ao inferno,

Seremos todos e não seremos ninguém,

Sobrevivendo nesse caos indigesto.