A Música Toca
Começa o som,
A melodia sendo feita,
Procura-se o tom,
A busca da harmonia perfeita.
Tocam a música,
Eu não toco,
No máximo faço barulheira rústica,
Ou qualquer outro troço próximo.
Mas a música me toca,
Posso não ter estudado,
Não sou musicista que transforma,
Mas me sinto com ela modificado.
Sétima arte que impressiona,
Não sou dado a erudições,
Considero que todas encantam,
Despertando ódios e paixões.
Sejam as instrumentais,
Por alguns, consideradas “clássicas”,
Embora em minhas percepções boçais,
Classicismo é o folclórico que a cultura resgata.
Os novos ritmos são menosprezados,
Rock, funk, ditos de pouca qualidade,
Até o dia que são consagrados,
Mudando a impressão da sociedade.
É quando estou triste que ouço,
Aquela música mais melancólica,
Ou seria eu que a torno assim por esforço,
Afinal, tudo não passa de uma inventada história?
Se a ira me apossa,
Quero algo mais violento,
Não será qualquer bossa,
Que me conterá nesse momento.
Fazendo “amor” então,
Aquela canção para dois escutarem,
Faz acelerar o coração,
Os gemidos parecem dela fazer parte.
Na empolgação,
Usamos objetos de instrumentos,
Produzimos comoção,
Pessoas a utilizam como norma em casamento.
A memória busca o momento,
Adequando-o à música escutada,
Fazendo ressurgir do esquecimento,
Aquela emoção um dia vivenciada.
Passeios familiares,
Embalos de festas,
Em alguns trabalhos são menos populares,
Em certos grupos não se fazem de modestas.
Música para abrir o apetite,
Outras abrem ou fecham pernas,
Uns depositam fé, acredite,
Assassinos anunciam a morte por elas.
Fecho a porta do quarto,
O corpo começa a mover-se,
A dança mais natural, eu acho,
Sem técnica para fazer-se.
A bebida ajuda no entusiasmo,
Brindes com alucinação musical,
Não é à toa que foi ofertada a Baco,
Sua exposição é magistral.
Quiseram fazê-la divina,
Boa demais pra ser feita por homens,
Mas a arte nobre nos ensina,
Somos criadores dessa beleza, não se enganem.
Mesmo os surdos a sentem,
O som repercute sua força de impacto,
Tornando a vida mais contente,
Criando nas pessoas outro tipo de laço.
Embalamos bebês com as canções,
No rito fúnebre elas estão presentes,
Em hospitais onde se tem grandes tensões,
Em viagens ou recordando um ausente.
O corpo todo arrepia,
Pego uma vassoura velha,
Uso de lúdico violão com alegria,
Sou músico de meia tigela.
Vamos assistir grandes espetáculos,
Nos emocionar com performances,
Seja no cinema ou dentro do teatro,
Para alguns representação de totem.
Vou sentindo a musicalidade,
Mesmo em língua estrangeira,
Pra mim desconhecida a letra, é verdade,
Mas o ritmo o coração traduz ao pé da letra.
Disseram na bíblia cristã que é ofertada a deus,
Talvez por isso os cultos a valorizem tanto,
Prefiro pensar que são profanas, algo mais ateu,
Valorizando o talento e a capacidade de sentir humanos.
Não quero ser a forma do som tocado,
Nem a última percepção que o cérebro absorve,
Desejo ser algo próximo ao tímpano nesse contato,
Vibrante, intenso, irracional, sensível ao toque.
Se me encontro ou me perco,
Acredito que seja apenas preconceito,
É pretensão se achar outro ou mesmo,
Não quero ser uma coisa, um algo, um jeito.
Quem sabe um maestro seria,
Algo próximo do divino ao reger,
Apenas gesticula em doce histeria,
A orquestra já se faz rigorosa no fazer.
Falam sobre o cantar de outros animais,
Como os pássaros por exemplo,
Mas só os homens dessa arte é capaz,
Não adianta atribuir a natureza esse invento.
Talvez nada tenha de natural,
Seja algo que desvirtua o não-humano,
Pois fazemos negar o sentido primal,
Adornamos com nosso antropocêntrico encanto.
Pois pra mim a música é diabólica,
Os anjos caíram e cantaram por isso,
Tem mais sentido usá-la com rebelde lógica,
Em vez de pensar num sonoro paraíso.
Satã toca os acordes da revolta,
Ocidente que tachou Oriente de inimigo,
Mas digo que se fosse antigo anjo da rota,
Deveríamos nos unir com ele e chamá-lo e amigo.
Sejamos tomados pelo embalo que abala,
Feito “cavalo” em terreiro religioso,
Com gestos desencontrados e algazarra,
Manifestações de uma dança de loucos.
Desejo ser assim desgovernado,
Uma letra que ouço feito seminário,
Ou ritmo que me deixa atordoado,
Quero viver esse sentido desvairado.
Me deixem uma modinha,
Melhor, algo fora de moda,
Canção simples na violinha,
Requintadas e estrondosas óperas.
Estou desnudo, me despiram as carnes,
Nem sexo consigo mais ter,
Apesar do falo balançar ao mexer nesse disparate,
Pra quem pensar se estou a me desfazer?
A música da vida eu não sei,
Meus pais acasalaram e não ouvi,
A de minha morte não ouvirei,
Já que ao tocarem, não estarei mais aqui.
Se eu não fosse compositor de merda,
Poderia criar uma com sentido bem íntimo,
Mas nas feitas por outros, consigo uma meta,
Posso ser transportado como um breve silvo.
Estamos a todos momento construindo.
Uma canção das nossas vidas,
Cada palavra, som feito ou absorvido,
No final será composta uma idiossincrasia.
Vamos ser músicos telúricos,
Abalar qualquer divino ou ser fora da Terra,
Gritando, fazendo bastante barulho,
Compondo a canção de nossa afrontosa guerra.