Eterno Retorno

Sair do lugar continuando nele,

Dar uma volta completa em si,

Ir e voltar em sai desse e nem daquele,

Ter-se como início, meio e fim.

Na verdade não ter um começo,

Sendo assim, jamais se findaria,

Talvez uma constante seja o meio,

Rota que em nada desembacaria.

O Eterno Retorno nietzschiano,

Os Vedas já relataram antecipadamente,

Desdobra-se num contínuo plano,

Se produz destruindo-se constanmente.

A Roda do Destino que gira,

Um Samsara mais sublime,

Se mantendo a coisa se agita,

É o caos numa ordem insigne.

Ficamos tontos quando giramos,

Voltamos ao ponto inicial,

O que se passou depois ignoramos,

O voltar para sempre igual.

Não refazemos pois é sempre fazer,

Não se pode ser de novo,

Então cada momento jamais irá acontecer,

Um nada surgindo no excêntrico jogo.

Oroboros mordendo a cauda,

Vai se auto-devorando o tempo todo,

Mas a temporalidade falta,

Fica só o ato glutão num repetido esforço.

A Caverna que Platão descreveu,

Várias cavernas sobrepostas,

No final apenas uma única que nasceu,

Ou jamais tenha sido gerada nessa história.

A curva que dobra sobre si,

Achamos que existe uma continuação,

Algo que escape a esse existir,

Mas ela volta redimida a antiga situação.

Achamos que são dois ou mais,

Mas como a Aleph judaica,

Partem e se reduzem a ela, nada mais,

Um drama de ordem cármica.

Estamos encerrados desde o início,

Na verdade nada disso pode ser pensado,

Nisso que abre-se o ápice do abismo,

Sem iniciar como poderia se fazer encerrado.

Nada de evolucionismos e progressões,

Apenas a esmagadora Roda que gira,

Gira sobre si, causando fluxos de desconstruções,

Sendo engolidos, percebemos a vida.

Seus movimentos são em todas as direções,

Ou seja, não segue direção alguma, sempre parada,

Nada de baixo ou cima, esquerda ou direita, nem volições,

Levados a esmo feito folha ao ser gravemente arrastada.

"Eterno enquanto dure",

Mas a duração não é medida,

É terno Vinícius com esse embuste,

Mas pouco verídica a harmonia.

A metafísica do Caeiro é mais precisa,

Desintegra essa tentativa de racionalizar,

Dizem para fazermos ponte e o homem se aproxima,

Quem precisa delas quando aprendemos a voar?

Planamos de uma forma visualmente cíclica,

Aquele conceito antigo grego de Revolução,

Caímos e subimos por uma força que não se identifica,

A estética apenas revela que estamos em projeção.

Saturno perde a foice e ganha os anéis planetares,

Antes ir rodando do que temporalmente ceifando,

Ou foice em disco que ganha outros nomes singulares,

Rodopiando com lâminas que cortam e regeneram o plano.

Deslizamos como o Big Bang estelar,

Achamos que somos infinito nessa expansão,

Mas o Big Crunch vem nos demonstrar,

Que logo as peças ao quebra-cabeça voltarão.