Antes de Dormir

Sentei na beirada da cama,

Fitei o quarto já escuro,

Senti o tecido do pijama,

Pensei que ali estaria seguro.

As trevas me deram doce abraço,

Me cobri para esquentar do frio,

Ali estava acompanhado e solitário,

Deitei a cabeça no travesseiro com alívio.

Sem rezas para apelar,

Apenas lembranças do dia,

A mente começa a divagar,

Pensei em como depois agiria.

Um calafrio subiu pelo corpo,

Manifestação de um hiato,

Uma náusea que chega dar nojo,

Diante do mundo sou ingrato.

Os olhos se acostumaram ao escuro,

Identifiquei sombras de objetos,

Falei tanto comigo me fazendo de mudo,

Em cima aquela imensidão de teto.

Meu olhar cego perscrutante,

Delegando formas,

Um pensamento vez ou outra hesitante,

Perdendo a noção das horas.

Um virar para um lado e para o outro,

Sem posição que faça o sono chegar,

A fadiga que causa impressão de estorvo,

No máximo um bonachão bocejar.

Uma ereção voluntária,

Por um desejo perdido,

Logo se tornando flácida,

Não havia grandes motivos.

Já diabinhos em contava,

Eles pulam outras cercas,

Deter eles não adiantava,

Tocavam bacantes trombetas.

Olhei tão fundo no escuro,

Que ilumei as trevas com fagulhas,

Agora tento me fazer de surdo,

Mas os sons furam como agulhas.

Não são os macacos que me mordem,

Mas pernilongos fêmeas vampirescas,

E eu coço esse troço, as unhas acodem,

A irritação na pele e a boca ficando seca.

Uma luz atravessa pelo vão embaixo da porta,

Aquela fresta luminosa que afronta minha escuridão,

Viro o rosto para negar essa claridade indecorosa,

Tento apagar a mente para adormecer sem intromissão.

Penso em você e levo a mão até dentro da cueca,

Depois solto o membro numa indiferença masturbatória,

Meu estado é mais de desânimo que de entrega,

Só a prostração que derrama numa paralisia ejaculatória.

Essa pequena morte que não vem,

No outro dia serei outro eu,

Como está difícil transpor, ir além,

Parece que o tempo enlouqueceu.

Joguem os dados de uma cor só,

Onde não posso ver os números,

Tudo confundido em intrincado nó,

Feito símbolo de infinitos múltiplos.

Minha imaginação cria figuras,

Estranhos homúnculos na parede,

Se esvaem em invisíveis fissuras,

E aumentando minha notívaga sede.

Uma freada de carro na madrugada,

Deduzo o a hora pela brisa conhecida,

Nariz entope com a certeza de equação matemática,

Os pés descobertos como se fosse feito à revelia.

Ouço passos de pés que não andam mais,

Suspiro e sufoco num soluço fleumático,

Sonhos rápidos se apresentam, dando sinais,

Só mais um pensar e adormeço dramático.