O Homem e a Reta

Disseram que uma reta,

É a distância entre dois pontos,

Essa realidade que me resta,

Vivo num pesadelo de sonho.

Meu primeiro pé,

Finco no ponto inicial,

O segundo se assim o puser,

Estará como apoio no ponto final.

Assim me coloco sobre a reta,

As pernas abertas em compasso,

Minha natureza íntima desperta,

Fico assim totalmente paralizado.

Sem movimentos alternativos,

Cravado nessa pontualidade,

Tenho os pés como marcos, fixos,

Pareço uma torre de carne.

Mas na abertura das pernas abertas,

Está a lacuna entre os pontos,

Formo um triângulo que não se altera,

Firme nessa postura, encerrado no encontro.

Meu movimento paralisado,

Cago por essa abertura,

As fezes descem de perna abaixo,

Queria conter o que sai da bunda.

Mas não me movo, nem para fechar o cu,

A merda escorre, assim como a urina que jorra,

A sensação de movimento é apenas um defecar absurdo,

Sai mijo, bosta e até gozo, uma porra estática pra fora.

Sou um símbolo maçon fossilizado,

Um arquétipo primordial gravado,

Paisagem de objeto prostrado,

Planificadamente inalterado.

Estou esgotado nessa fossa producente,

Onde produzo essa estática de merda,

Sem esfincter que possa reter o fluxo dissolvente,

Reproduzindo algo que não se alterna.

Pra que fui me fazer sujeito-reta?

Agora fui consumado nesse túmulo esterelizante,

Minha natureza é destrutiva, abjeta,

O peido que sai do meu rabo é um sopro de nada infertilizante.

Nessa abertura, só é permitido outro buraco falar,

Por isso meu cu põe pra fora os degetos sem propósito,

Como não é possível alguma outra forma de escoar,

Inverte-se o polo para que eu mesmo sirva de depósito.

Os excrementos voltam pra mim pela boca,

Como a bosta que sai e evacuo de novo,

Assim eu prossigo nessa paralisia louca,

Nada criando que não seja reproduzir o insosso.

E o mijo volta por cima junto com a porra,

Os testículos logo estarão excitados por esse consumo,

Devolvo tudo numa oralidade que satisfaz a boca,

Me reinvento a cada que vez que me destruo.

Não morro, porque nunca nasci,

Uma não-vida, logo sem morte,

Eternamente esse vazio produzir,

Até que o desejo do real um dia me toque.