Sujeito Oculto

Fui andar, descobri não ter pernas,

Na queda, apoiei ao chão as mãos, sem tê-las,

Olhei procurando pessoas, em alerta,

Mas faltava visão, não consegui vê-las.

Gritei, nada de cordas vocais,

Suei e nada de glândulas sudoríparas,

Movimentava imóvel no lugar,

Os pelos arrepiavam inexistindo. Agonia!!!

Tentei arrancar os cabelos, nem um fio sequer,

Como estalar os malditos dedos, falta até articulação,

Pra que sentir gosto sem palato sequer,

Destarte a língua fingia ter, por cômica simulação.

Lábios outrora beijantes, agora sumidos,

Pele totalmente ausente,

Orelhas faltam, inclusive os tímpanos,

Sou um eficiente deficiente.

Fui sentar sem ter bunda,

Nada de umidade por falta de glândulas salivares,

Escutei de forma surda.

Olhei atrás, cadê os malditos calcanhares?

Não sinto meus pés sem sola,

Não nasci, nem umbigo tenho.

Estou dentro, estou fora?

Pra que serve este cenho.

Bati, em nada, logo, em mim.

HaHaHaHaHa! Não choro nem tenho risada,

Não tenho dor, nem felicidade. Ai de mim!!!

Se adiantasse, até poderia receber umas palmadas.

Que mundo? Nem estou aqui.

Será que alguém me notou?

Foda-seeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!

Sem pau, sujeito que nunca gozou.

Ter horror de uma coisa se não existe,

Parece mofa de ficção doentia,

Talvez esteja doente, saudável, alguém me indique,

Escravo que nem sabe o que fazer com alforria.

Vou beber... Água, sinto sede.

Mas nem perco líquido, sou acumulativo?

Vou na água que passarinho não bebe pra valer,

Mas já estou alcoolizado na falta de sentido.

Dançarino sem pernas, quase um silvo,

Assexuado me sinto uma ameba,

Castrado antes de ter um pinto,

Prisioneiro contido sem cela.

Feito besta vou me alimentando,

Claro que degusto o nada,

Não possuo nem estômago,

Quanto mais um cu para dar uma cagada.

Sou escroto! Nem tenho um, sou estéril?

Tomara que seja, não deve existir outro de mim,

Imagina que mundo pérfido,

Cheio de nadinhas, um aqui e outro ali.

Nem sei o que desejaria ser,

Acho que isso me define,

A falta de definição, um nada-ser,

Misterioso, uma esfinge.

Como penso sem ter cérebro?

Morri, vivi, sou um inconsciente no espaço?

Digam-me racionais céticos,

Sou inteiro ou em pedaços?

Nada de luzes, nem de escuridão,

Sem poder roer unhas sumidas,

Não tenho ódio, nem Pathos (Paixão),

Nasci mesmo ou isso é uma aporia?

Vou tentar queimar a mão no fogo,

Tentar cortar a carne.

Nada de resultados, agora estou louco,

Estou sufocando neste enfarte.

Agoniaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!

Pra que serve a moral se não existo,

Me digam, geniosos moralistas,

Se tentarem me fazer engoli-los eu regorgito.

Eu queria ser...

Onde estão os outros?

Se sou responsável pelo alter,

Não sendo, nada mais existe. Estou absorto!

Isso é Paraíso ou Inferno?

Pareço um arquétipo insano,

Mas de que importa esse impropério,

Nem sou superfície de um simples plano.

Vou me fechar neste útero sem feto,

A redoma vai me enclausurar,

Estarei tão coeso e abjeto,

Que o universo em um Big Bang, vai me expulsar.

Se tivesse costas a usaria como face,

Pra contemplarem a retidão do meu dorso,

Mesmo que algum ousado me insultasse,

Teria a imagem vigorosa dos ombros altivos no corpo.

Nem forte, nem fraco,

Nem bronzeado, nem pálido,

Nem gordo, nem magro,

Nem fundo, nem raso.

Se tragar absorvo o nada,

Expelindo o que não tenho,

Não sou dádiva e nenhuma desgraça,

Perdido, nada me afeta, nem o tempo.

Se tivesse sangue cortava as artérias,

Só pra ver as gotas da inexistência,

No coito ia querer as venéreas,

Pra não usar preservativo com consciência.

Se é insanidade, estou alucinado,

Pregaste das suas, Loki,

Agora sou nietzschiano em patológico simulacro,

Palhaço sem motivo pra fazer sorrir.

Vou tatuar o vazio nesse corpo inexistente,

Colocar um piercing naquele hiato do meu sentir,

Exercitar as lacunas para se tornarem abrangentes,

Lutar até o fim por este ignominioso suprimir.

Quando quiseres me conceber,

Basta fechar os olhos, prendendo a respiração,

Pode se deixar desfalecer,

O que não se recordar, serei eu, vivendo na sua imaginação.