Indubitabilidade.

Às vezes pela noite surge uma velha canção,

Não sei ao certo se velha, mas talvez antiga.

Sei que é imelódica. E transgredida. Rompida,

Pelos pactos que fiz comigo mesmo...

Às vezes pela noite caminho, inseguro...

Solitário. Como se nada mais se pude suprir,

Ou melhor, suprimir o terror que habita em mim.

Quão terrível poderia ser a vida de um homem?

Poderia ser boa? Ou quem sabe suportável!

Sei bem que a rotina nos assola.

Mas não compreendo o porquê de tantos anos de solidão!

Por que, oh musa insolente, porque tantos anos?

Tantos anos vividos, sobre a margem de um semi-vida.

Que triste a condição de um homem:

Não mereço nada! Nada, tampouco uma semi-vida!

Indubitáveis e malditas certezas – parem!

Assolem a outro coração.

Minh’alma quer viver.

Anseia por ser feliz,

Sem mais nenhuma náusea do passado.

Vivo nas certezas.

Oh! Musa abre meu coração.

Faze-me ver, alem de meus olhos...

Faze-me ser, alem de minha mente...

Faze-me feliz, alem de minha vã compreensão!

Musa. Terrível, musa.

Mostra-me a vida...

E cantá-la-ei aos homens,

Que como eu,

Vivem a beira de uma semi-vida.

Musa. Minha eterna musa.

Faze-me ser musa de poetas futuros.

Assim, como hoje, e na outrora do futuro,

Tu foste e será minha musa.

Minha adorada musa.

Musa de verdade,

De beleza. De rancor.

Fazei de mim, tolo poeta,

Um instrumento de vossa ira.

Porque sou a mão que toca...

E a mão que te condena.

Sou apenas tua mão.

Tua, e de mais ninguém.

Musa. Minha eterna musa.

Toca-me com teu doce veneno.

Corrompe minha pureza,

Fazei de mim uma arma de tua ira.

Quero ser a mão, tua eterna e insólita mão.

Sem mais ou por que.

Sem vírgulas ou verdades.

Porque somente sendo tua mão,

Poderei ter a vida que tanto anseio...

A vida que não posso ter.

A vida que me foi renegada.

A vida... Ávida... E

Ávido de amores estou pela esta vida.

Ávido de sonhos, e por eles

E por ti, minha musa, eu viverei...

Minha musa!

Permita-me ser tua mão.

Pois assim viverei,

Por ti eu viverei...

Não permita minha musa,

Que eu morra sem a ti servir!

Servi-la-ia com amor.

Com fidelidade.

Não...

Minha musa, não permita

Que eu morra sem que volte para ti.

Sem que beba da vida em teu seio.

Sem que sinta a brisa de teus sopros.

Sem que eu possa tocar teus lábios,

E deles tirar meu êxtase.

Musa! Minha eterna musa!

Permita que eu seja tua mão.

Permita-me tocá-la.

Permita-me viver...

E afastar de mim,

Este sangrento calvário.

Esta insólita vida.

Permita-me ser vida.

E abandonar para sempre,

E todo sempre – amém,

Esta inanida semi-vida.

"Leiam minha apresentação: http://www.recantodasletras.com.br/cartas/2394709"

Le Vay
Enviado por Le Vay em 14/04/2010
Reeditado em 23/07/2010
Código do texto: T2197188
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