O Nó

A minha alma está seca

E minha cabeça mais confusa que minha lavanderia

Cheia de idéias sem utilidade,

Cheia de conteúdo inútil,

De fato, sem recheio...

Cheia e bagunçada!

Às vezes Greg visita um cantinho à luz,

Outras, simplesmente, se esconde no escuro!

O tanque às vezes transborda,

E usamos o rodo para secar o chão...

A máquina de lavar roupas bate

Quando há algo para lavar,

Quase sempre, porém

Hoje, justamente agora, está vazia!

E só se ouve o silêncio...

Na única porta com vidro,

Há um vidro fosco,

E ela está coberta

Para que o escuro prevaleça...

Aqui dentro, bem aqui no fundo,

Há uma força na bagunça,

Uma força de ser mostrar forte...

Na guerra o blefe domina,

Não há máscara na lavanderia,

Aqui eu posso tirar!

Lá vem o gosto pela dor...

Aquele a arder-me como fogo as entranhas,

Aquela a consumir-me como fungo,

E paralisar-me como geada.

Mas aqui dentro, aqui nos fundos,

Aqui na cama,

Eu posso olhar para todos os lados,

Não há garota estranha,

Não me cabe o sorriso,

Não me serve o reflexo de alegria...

Aqui, sobre os travesseiros,

Confidente e amigos,

Eu posso até ouvir as músicas que me doem,

E posso desapertar os laços mal feitos

Que engoli e pararam na garganta.

Não só aqui neste lugar que estou,

Mas bem no fundo de mim,

Aqui, sozinha a nada escutar,

Posso me dar a mão,

Apertar-me num abraço

E dizer que tudo vai passar...

Há um alerta mais à frente

“Cuidado inflamável”, posto numa lata

E palavras de consolo num saco

“Dedicação total a você”.

E dia as roupas limpas

Parecem me abraçar, me consolar.

Deixe-me em paz, garota estranha...

Volte ao seu devido lugar!

Os sapatos parecem que vão começar a fugir

Ou dança...

Há dois baldes namorando,

Mas o azul não quer o verde...

Talvez não goste de coisas muito diferentes.

Talvez...

Não é rum, vodka ou álcool algum,

Só sinto uma ardência dolorosa.

Um fogo a queimar-me

Talvez seja o calor de estar sozinha

Numa noite quente de domingo,

A olhar uma bicicleta vermelha...

Eu não espero que libertem-me o coração,

Não me importo mais com a ignorância alheia,

Mas me irrita ser cheia de nada!

De ilusões e sonhos mesquinhos...

Objetivos superficiais! Viver...

Viver dói mais que morrer,

Mas acreditar, estar morta viva é a por das dores que poderá sentir.

Dói a lua, amarelinha e cheia de si,

Não inspirar...

Dói muito, nuvens serem somente nuvens, às vezes...

Dói não vê-las virar trampolins...

É terrível a dor que toma conta de mim,

Ao pensar que ser é somente ser.

Sonhos e ilusões mesquinhos que enchem a lavanderia...

E o tanque não transborda.

Talvez depois de tanto amar

Venha o medo de ser entregar,

Para ter que ler de quem tanto amou

Que há duvida no amor que doou.

“Prometo que quando crescer,

Serei uma bonita mulher...

Por hora contento-me em ser uma criança”

Pois ainda não vi nem metade da vida...

Confesso que me entrego ao fim por dores da vida...

Porém, ainda tenho em mim a estúpida força e coragem.

Mesmo que as esquinas dobradas

Tragam-me machucados,

Se for para falar de amor,

Vou quebrá-la...

Nem que seja só numa viagem

Numa lavanderia,

Ou em qualquer outro quarto,

Eu vou ter alguém para me abraçar,

E dizer que está tudo bem, que vai passar...

Não é uma garantia, é minha confiança.

Sabrina Vieira
Enviado por Sabrina Vieira em 12/01/2009
Reeditado em 09/10/2012
Código do texto: T1380609
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