BICHO DE SETE CABEÇAS
Cospem fogo,
Vomitam fagulhas,
Azar! Jogam o jogo,
Cerzem com agulhas
Os pensamentos vagos;
Vagueiam sem dono,
Bebem tantos tragos
de cicuta.
Vertem sono
Ninguém escuta.
Ninguém viu.
Espalham pânico,
Defloram pântanos,
Afloram satânicos
chifres de latex.
Incomprensível dialeto,
Concâvo, concreto;
Abstrato viver.
Beijam amuletos,
Se agarram ás amuletas,
Se apegam de todos jeitos,
Agarram-se as muretas.
Pendurados no céu;
Caem no inverno,
Estação-inferno.
Caem os véus,
Rasgam as mascáras,
Publicam editais,
Bulas papais,
Condenam os acáros,
Maldizem os aváros,
Aguardam milagres,
Se armam de punhais,
Pescam bagres,
Nos lamaçais.
Bicho de sete cabeças,
Uma vive,
Outras quase,
duas pensam,
Outras mentem.
O resto por dilema,
Rasgam as vestes.
Padecem de pestes,
Lêem meu poema!
[gustavo drummond]