Empresa mulher
Empresa mulher
Já não suporto tanto desperdício,
A causar esse rombo em meu salário,
Estou a parecer um baita otário,
De tanto trabalhar no meu ofício,
Irei solicitar um armistício,
Assim, morrerei antes de janeiro,
Meu couro doarei ao sapateiro,
Já estou com a língua posta fora
Numa vida inclemente, muito embora,
Pra minha mulher, eu acho dinheiro!
Eu não conhecia tanta maquiagem,
Para reavivar sua beleza,
Tem cílios, batom, base de Veneza,
Esmaltes, blush, rímel e coragem,
Pra aguentar cera quente na pelagem,
Nada para frear muito ligeiro,
A gastança com óleo estrangeiro,
Com pinças, sombras, glitter e anéis,
Água de cheiro, jóias pincéis,
Pra minha mulher eu acho dinheiro.
É mais fácil gerir uma empresa,
Que manter u'a mulher no dia a dia,
Ainda que para ir à padaria,
Ela não minimiza na despesa,
Nem meu salário encontra uma represa,
Ó, saudades dos tempos de solteiro!
Em que eu podia dormir o dia inteiro,
Mas, hoje, compro brilhos, brincos, grampos,
Enquanto eu me matando nos trampos
Pra minha mulher, eu acho dinheiro.
Espelho dupla face e algodão,
Tem óleo de banana e fixador,
Lápis, luvas, até removedor,
Tem água oxigenada, rouge, sabão,
Abacate, pepinos e limão,
Já plantaram uma horta em meu terreiro,
Já não suporto mais esse banzeiro
Eu me matando aqui de trabalhar
Estou seco tal vara de pescar,
Pra minha mulher, eu acho dinheiro.
Gastos desordenados com apliques,
Pra botar na cabeça mais cabelos,
Por outro lado tira outros pelos,
Isso está me cheirando alguns trambiques,
Melhor, eu gastaria em alambiques,
Pra que abdiquei de ser solteiro,
Já era o carnaval de fevereiro,
Estou numa batalha infinita,
Não é fácil manter mulher bonita,
Pra minha mulher, eu acho dinheiro.