PORFIA SINISTRA
PORFIA SINISTRA 2801.085
A lua quarto-minguante espreita as trevas
que dominam os sótãos soturnos do Castelo...
Dos baús alquebrados e fétidos emanam névoas
cambaleantes, perseguindo moscas até os lucivelos...
Perto deles vãs réstias de luz e lépidos insetos
embrenham-se, com fachos e asas translúcidos,
nas teias de aracnídeos vis e peçonhentos
como se fossem dois seres disformes, rústicos...
A perspiração inflama a contenda com gases
exsudados de axilas afadigadas de densas
brumas que infestam os ninhos de traças...
e estas tetricamente prosseguem em suas crenças
Repulsivas: de um mísero fio da trama despenca
a última gota de claridade com que se dana
a coruja d'olhos estalados... (Ela viu a encrenca
caótica onde se atracaram, soberbos, sob chama
fumegante, o porta-ressaca, perfurado por pernilongo,
e o frasco de inseticida quase-vazio, vencido-premido,
por dedos mortos de cansaço, instáveis, longos
e tortos de tanto derrubar taças endurecidas
por líquido petrificado (gelo) - e um fraco jacto
sopra a vela e a apaga e no escuro... - haja sacos! -
onde fica mesmo cada de seus esguios sovacos?...
Para florir a pintura da cena há a lua nova,
cacos ocos, cascos cheios de nada, teias, trova,
ébrio vazando, bomba de "flits" estragada...
Não falta nem o abajur com lâmpada queimada!
...mas eis a face assaz comovente dest'história:
A despeito de caber tanto desastre, lamúria,
foi o mísero pernilongo que ficou na penúria!
Bobeou, bebeu álcool com groselha e foi à glória!
Sem tristezas! Este acidente já tem solução moderna:
"De prêmio a cada pernilongo dai uma mini-lanterna!"
...e isto não é mera questão de costume:
só voa sóbrio o tal de "seo" Vagalume!...
Sorocaba, aos três dias do mês de fevereiro do ano de 2015.