A MORTE DO POETA
O poeta morreu,
dia desses,
vitimado por uma palavra perdida,
quando lia um decreto
regulamentador de orçamentos secretos.
E de nada adiantou
o socorro de gramáticos
e literatos,
pois, o ferimento foi profundo,
atingindo-o, de forma mortal,
enquanto, na fria manhã,
folheava o seu jornal.
Ferido de morte, que fora,
fez-se aguda verborragia:
uma enxurrada de fonemas,
adjetivos e, até mesmo palavrões,
dos mais cabeludos.
Após tratamento intensivo,
com a aplicação de enálages na veia
e sonetos subcutâneos,
debelou-se o edema sintático,
porém, era tarde demais;
nada mais restando ao bardo,
que um coração exangue,
tal e qual um livro destroçado,
como antes não se vira igual.
No funeral,
diante do esquife,
em forma de rondel,
musas inconsoláveis
e amigos consternados
choraram interjeições,
metáforas e ironias.
Você que agora me lê,
tenha o máximo cuidado,
pois a morte está sempre escondida
em tudo que não lhe deixam ver.
- por JL Semeador, Lapa, 24/06/2011 -