FANTASIA EM DÓ MAIOR SOBRE O PRELÚDIO DA ÓPERA “MORFEU” DE JULIA LOPEZ, OP. 1 “LACRIMOSA”
1º Movimento: Adagio Dolce (Ao Colo).
Com o ímpeto natural da infância,
Abandona brincadeiras e fantasias,
E afetuoso se levanta,
Atendendo autômato
Ao indeclinável convite de Sono
– cada vez que vejo o infante,
afasto da mente a ideia angustiante
de convidar o irmão gêmeo do deus,
ainda mais indeclinável: imperioso!
Com a voz doce e terna,
Os olhos pesados e carentes,
Minha parte mais pura e inocente
Me pede colo, pede-me para descansar
(pelo menos foi o que pude entender
no desenrolar – ou seria enrolar? – das palavras).
Carinhosamente o acolho
Em meus braços pesados pelo labor,
Pelo sacrifício diário,
Pelo peso largo das horas.
Logo me envolvem
Magicamente seus encantos
E de estar exausto já não me lembro;
Apenas o conforto experimento
De sentir seu pequeno corpo contra o meu,
De sentir que do mundo posso protegê-lo,
Da dor e do sofrimento;
De sentir que nunca irei perdê-lo
Naquele instante eterno
– como queria que eterno fosse –
Para o coração...
Experimento um pouco de paz!
2º Movimento: Andante Cantabile (Ao Embalo).
Em meio ao embalo
Cansado e desafinado
– apenas um prelúdio fraco
aos contos e cantos,
ao mundo de fantasias
da Ópera de Morfeu –
Pouco a pouco
As pequenas pálpebras
Vão dançando em ritmo
Cada vez mais lento... Lento...
Vai mudando-se o andamento,
Vão mudando-se os compassos
– de Andante a Adágio;
de Adágio a Lento;
depois Largheto, Largo, Larghissimo...
Pesa a cabeça pequena,
Entreabrem-se os finos lábios
E revelam os diastemas
A decorá-los como um perolado diadema;
Pequeninos braços e pernas
Desabam suave e lentamente
– em câmera lenta –
Como um maestro
A finalizar uma regência.
E entre adoráveis
E naturais espasmos
– entre os acordes finais! –
O pequenino se entrega
Ao doce canto dos deuses oneiros
Em seu mundo de maravilhas
E mágicas diversões
– Morfeu e Fântaso
são seus anfitriões!
3º Movimento: Larghetto Affettuoso (Ao Contemplar).
Cesso o desafinar e passo ao contemplar!
Tão belo, tão pequeno, tão adorável!
Pureza e inocência; delicadeza e ternura!
Repouso meu olhar
Nas águas doces e tranquilas
Do semblante sereno
Que inspira paz
– águas salgadas não são,
pois estas inspiram melancolia, ou agitação! –
E vejo Marcas de Expressão dignas
Dos melhores recitais – Dolce,
Cantabile, Affettuoso, Con amore...
Quisera mantê-lo assim comigo,
Livre do mundo e de seus infortúnios;
Longe de suas sinfonias pesadas,
Longe da agressividade,
Do conflito e da violência
De um Scherzo na Eroica de Beethoven;
Longe de Réquiens e Stabat Mater
– ou seria Pater?
Quisera mantê-lo assim comigo,
Na tranquilidade e no conforto
Do paterno e terno abraço!
4º Movimento: Largo Con Amore (Ao Adorar).
Com adoração tomo suas mãos
Tão pequeninas entre as minhas
E me delicio com cada mancha de tinta,
Com cada marca de travessura!
Fito seus pés pequenos e encardidos,
E me perco imaginando cada passo
No correr das horas de um dia
Cheio de aventuras e alegrias!
Ao ver seu rosto aveludado,
Para um terno beijo levo os lábios,
E ao me aproximar de sua face,
Sinto o aroma daquele biscoito preferido,
Do leite quente e saboroso,
E percebo que por essas coisas,
Tão comuns e cotidianas,
É que tanto e mais o amo!
5º Movimento: Finale – Larguissimo Bruscamente (Ao Prantear).
E então,
Com a garganta apertada
E o nariz em ardência,
Descontrolado me entrego
Às convulsivas lágrimas,
Salgando seus doces lábios!
E em um abraço apertado
Molho sua tenra tez
Com minha dor,
Com minha tristeza;
Com o pranto do temor,
Da insegurança, da incerteza!
Tudo o que ele queria
Era dormir em meus braços,
E tudo o que anseio é senti-lo
Adormecendo em meu abraço
– estamos os dois realizados
nesse singelo momento!
Dói não vivermos juntos!
Dói não poder adentrar
A recâmara a cada átimo
Para vê-lo na tranquilidade
Noturna repousar!
Dói não poder adormecer
Sabendo que está logo ali,
Ao lado... Mas basta!
Apenas doces
Combinam com crianças
– não o fel da tristeza
e nem o sal das lágrimas!
Não quero mais prantos,
Não quero mais dor!
Quero apenas sonhar como ele,
Sonhar seus sonhos, sonhar junto a ele
Na solidão ou ao som do meu canto!
Durma em paz, meu pequeno infante!
Durma em paz, meu doce acalanto!!!
Julia Lopez
23/03/2013
Obs.: Poema sobre meu filho, que já não vive mais comigo (toda a dor advém disso) em decorrência da separação conjugal. O episódio realmente ocorreu no dia 14 de novembro de 2012.
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