MEU AVÔ E MINHA AVÓ ou LEMBRANÇAS ESQUECIDAS DE FAMÍLIA

Meu avô dançava coco

Pitava fumo de rolo

Andava de noite sozinho

Dinheiro sempre pouco

Meu avô era cafuzo

Filho de índia com negro

Por detrás de um meio sorriso

Dizia ser tão-somente caboclo

Meu avô gostava de jogos apostados

Da companhia de prostitutas bonitas

De comer goiabada com queijo minas

Após o almoço farto dos domingos

Minha avó cozinhava na lenha

Assava milho e batata-doce nas brasas

Direitos, sei que não os tinha

Vivendo quase sem alegrias

Minha avó era descendente de franceses

Nordestinos, talvez fugidos do Maranhão

Nunca saiu sozinha de casa, sua prisão

Seus filhos e filhas, seu único interesse

Meu avô e minha avó se diziam felizes

Ela rezando terço e varrendo o terreiro

Ele caçando e coletando ervas

Que era tido por bom curandeiro

O tempo passou muito depressa

Meu avô morreu pitando e bebendo

Minha avó, muito depois, aos filhos presa

Seu último sorriso, até hoje recordo. . .

- por José Luiz de Sousa Santos, o JL Semeador, concluído em 06/01/2013 -