SOLILÓQUIO DA SAUDADE
- AO MEU PAPAI -
Não me olhes assim!
Não me olhes assim!
Sei que te traí, Papai!
Dói-me olhar
esse olhar azul
com raízes no Infinito...
Tudo porque não posso ser
para sempre e cativa de ti
a menina dos olhos dos teus olhos.
Tudo porque não aceitas
que meus lábios agonizem por beijar
as corolas das flores perfumadas.
Por isso, temo a tua palavra,
mas desafio-te com a inocência
fruto da minha autonomia.
Tudo porque imploras,
a chorar, que não entregue
meu amor ao desamor [desejas-me feliz!]
Tudo porque troco numa troca injusta
as rosas brancas da pureza negra
pelo jardim da paixão carmim.
Quais e quantos pesadelos hei de ter
por ignorar o céu primoroso
que ora me ofereces?
Ah! Se soubesses o quanto não sei
dos meus sonhos alados,
prisioneiros da liberdade vã!
Se soubesses, para não me perderes,
aceitarias as asas brancas germinadas
aos meus pés princesa [que agora sangram!]
Mas, optas por ignorar
o entusiasmo dos admiradores
às recém brotadas curvas do meu corpo...
Fechas os teus olhos abertos
para o abrir do meu olhar cerrado
que seduz [e se deixa seduzir com] a vida...
Por tais desencontros todos
sofro todos os sofrimentos todos
e retribuo todo esse mal dorido ao teu coração...
Tola insensatez! Agora, beijo-te a alma gelada,
distante da vida que se esvai e se vai
para onde também volitarei um dia.
...................
Não te preocupes - vai - cresci!
Mas, não te esqueças - sou tua menina
dos cabelos negros e olhos cor de mar...
Ainda proteges meus sorrisos
e seguras minhas mãos
para atravessar a vida.
...................
Aguarda-me com as bonecas de louça,
meu verde acordeon e as partituras musicais
antigas e modernas - tuas preferidas.
Até lá [e que seja breve a espera!],
adormecerei tranquila e encantada
ao som do teu piston.
Boa noite, Papai...
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 2 de agosto de 2011 - 1h55
Fundo musical: Ernesto Cortazar. L'Adieu