Aquelas mãos

Aquelas mãos

Minha mãe varria, limpava,

lavava, passava, cerzia

as finas mãos de minha mãe

que varriam, limpavam,

lavavam, passavam e cerziam

se juntavam ao anoitecer

em oração, súplica e prece

e depois acendiam candeeiro

colocavam cuscuz na mesa

adoçavam o café de pilão

colocavam a manteiga no pão

e depois ainda tinham tempo

para debulhar o feijão de corda

costurar a velha roupa

catar erva medicinal no quintal

para fazer o chá de todo mundo

e como nunca se cansavam

aquelas mãos da minha mãe

pedia a ela pra fazer cafuné

tirar o espinho fininho do pé

medir quantos palmos eu tinha

para ver se eu estava crescendo

mas também elas voltavam

e acertavam em cheio na bunda

batendo de mão aberta

prometendo ser de doer a próxima

e eu chorava cheio de alegria

porque sabia que mais tarde

aquelas mãos tocariam meus cabelos

a voz suave ninaria uma cantiga

e depois alisariam o meu rosto

dizendo que filho lindo é o meu

e eu sonhando com a linda mãe

com a linda que era a minha.

Rangel Alves da Costa

blograngel-sertao.blogspot.com