ENQUANTO O PORTAL NÃO SE ABRE
ENQUANTO O PORTAL NÃO SE ABRE
Comemoro a vida todos os dias,
Desde que acordo e sinto o ar,
Mesmo com as dores ou alegrias,
Sabendo que assim vou perdurar.
O único nexo que tenho na vida,
É o que me permite zelar pelo lar,
Por via de regra ou obra parida,
Que dá acolhida ao continuar.
Todos nós teremos um desenlace,
Nessa dimensão onde apagam a vela,
Se há pavio me queimando a face,
Que o vento descarta em procela.
Mas enquanto o portal não se abre,
Quero ver como estão meus amigos,
E rever a quem queira um compadre,
Celebrando o pão do melhor trigo.
Meu instante é breve e não austero,
Porque sei do tempo que me acolhe,
No propósito de algo mais eterno,
Onde meu velho corpo se recolhe.
Só assim sou coragem que se proclama,
Pra dizer que o amor eu celebro,
Pois não quero o deserto que clama,
Nem vou ao tártaro amar a Cérbero.
Prefiro as ninfas e os seus encantos,
Porque assim nunca estarei com Minos,
Pois minha Bahia é de todos os santos,
Enquanto há guias para cada destino.
Não quero a versão dogmática,
Pois sei o que vi na escravidão,
Porque foram mil anos na prática,
Os dias sem mais compaixão.
Assim, prezo o clã performático,
Que sabe do palco em que estamos,
E respeita com gesto emblemático,
As águas nas quais navegamos.