UM CANTO DE ESPERANÇA

É preciso cantar a vida!

Ainda que amordaçada,

é preciso cantar o halo das flores

sobre as fuligens dos flagelos;

a beleza radiante dos igapós

sobre os lagos escurecidos.

Mesmo que a melodia deste canto

seja apenas um sopro mudo,

uma tocha sem fogo

um grito fosco – lágrimas do tempo –

uma âncora sem barco,

é preciso cantar.

É preciso cantar a esperança,

embalar os sonhos,

romper a casca da alma...

Colher as espigas doiradas,

a florada lilás dos murerus

que germinam na candura da manhã!

É preciso cantar as brumas,

tirar do baú de guardados

as mazelas da poeira do tempo,

os cactos de saudade

guardados nos espelhos

e nos poemas derramados.

É preciso cantar a pátria florida,

as frutas não colhidas,

as cicatrizes - e outras relíquias!

Acordar o silêncio da alma,

enxugar as lágrimas de sol

do grão de luz da existência!

É preciso cantar em demasia!

Mesmo que a melodia do canto

não promova nenhum encanto.

Mesmo que nos botes salva-vidas

- entre procelas e feridas -

é preciso cantar, cantar a vida!

Eylan Lins
Enviado por Eylan Lins em 26/07/2022
Reeditado em 28/05/2024
Código do texto: T7568161
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