UM CANTO DE ESPERANÇA
É preciso cantar a vida!
Ainda que amordaçada,
é preciso cantar o halo das flores
sobre as fuligens dos flagelos;
a beleza radiante dos igapós
sobre os lagos escurecidos.
Mesmo que a melodia deste canto
seja apenas um sopro mudo,
uma tocha sem fogo
um grito fosco – lágrimas do tempo –
uma âncora sem barco,
é preciso cantar.
É preciso cantar a esperança,
embalar os sonhos,
romper a casca da alma...
Colher as espigas doiradas,
a florada lilás dos murerus
que germinam na candura da manhã!
É preciso cantar as brumas,
tirar do baú de guardados
as mazelas da poeira do tempo,
os cactos de saudade
guardados nos espelhos
e nos poemas derramados.
É preciso cantar a pátria florida,
as frutas não colhidas,
as cicatrizes - e outras relíquias!
Acordar o silêncio da alma,
enxugar as lágrimas de sol
do grão de luz da existência!
É preciso cantar em demasia!
Mesmo que a melodia do canto
não promova nenhum encanto.
Mesmo que nos botes salva-vidas
- entre procelas e feridas -
é preciso cantar, cantar a vida!