A VIAGEM ALÉM DE UM ESCÁRNIO

A VIAGEM ALÉM DE UM ESCÁRNIO

 

Só há um caminho possível,

Até se quiseres ter cada lugar,

Pois ao imaginar não consigo,

Porque eu sou uno e não par.

 

Querer todos querem um dia,

Mas só há futuro a sonhar,

E assim, devo à minha alegria,

Querer o que posso amar.

 

Mas sonhos serão vaidade,

Se acordo sem me lembrar,

E vou só regando a saudade,

Do que não posso lamentar.

 

Lamentos serão só mistérios,

Guardados em meu pesadelo,

Por isso vou rindo ou tão sério,

Buscando por novo conselho.

 

Um dia eu acordo com a chuva,

Em outro me sopra o tornado,

E eu fico à espreita das uvas,

Com a raposa sentada ao lado.

 

E empresto à raposa uma fala,

Pra que ela converse comigo,

E agora sou monge que cala,

Ao querer só ter uvas e trigo.

 

Com esse momento furtivo,

Terei minha ceia e alegria,

Feliz sem querer ter motivos,

Se a vida é pintura dos dias.

 

E nós só seremos o quadro,

Se a tinta vier com o pincel,

E quando pensamos ser fato,

A vida é um veloz carrocel.

 

Pois giros em ondas iludem,

Quem não interpreta a história,

Se pensam ou nunca se nutrem,

Do verbo que gera a memória.

 

Seremos só ondas de rádio,

Que não são fiéis conselhos,

E viajam além de um escárnio,

No abismo de céus e espelhos.