Eu Gostaria de Escrever..._Ressurreição Poética n° 38
Da Série: RESSURREIÇÃO POÉTICA
POESIAS ANTIGAS
[Veja a contextualização desta série na poesia n° 01]
Eu Gostaria de Escrever
Eu gostaria de escrever algo
Que não fosse apenas uma continuidade
Mas, sim, um grande lema de liberdade
Uma lição de fé, de paz e de pura verdade
Que servisse a todos, a toda humanidade
Algo que fosse sempre presente
Que não caísse em lembranças vazias
Pátina que o tempo desnuda, silente
Quando amarela as páginas das poesias
Eu gostaria de escrever algo
Que se renovasse a cada alvor
Guiando-o como bússolas, astrolábios
Assim como seu sorriso, leitor
Que escondes atrás dos seus lábios
Algo que não fosse deveras grande, nem diminuto
Que extrapolasse todo o segundo, todo o minuto
Que tornasse medida exata da realidade
Para se cultivar a semente de felicidade
Eu gostaria de escrever algo
Que fosse parte de todos nós
Que não revelasse só emoções momentâneas
Mas, sim, um infinito despertar de conquistas
Uma compilação das mais belas coletâneas
Desejo de desatar todos os nós
Curativo para fechar da alma as sua feridas
Algo que amparasse suas lágrimas aflitas
No momento em que elas pesassem sobre o seu olhar
Nesta vida, por vezes, de tantas desditas
De tanto largar, morrer, sofrer ... partir, ferir, chorar
Que arrefecesse sua dor, seu pesar
No instante que uma perda batesse à porta da sua alma
Num momento em que lhe fugisse a serenidade, a calma
Eu lhe traria como conforto o versejar
Eu gostaria de escrever algo
Que não se limitasse a uma folha de papel
Que ultrapassasse um mero sentimento de beleza
Que os versos vaidosos esbanjam na sua realeza
Que o conduzisse num veloz branco corcel
Em busca da sua verdade, à cata da sua certeza
Algo que não se constituísse num mero jogo de palavras
Expressões sofisticadas
Rimas metricamente exatas
Eu gostaria de escrever algo
Essencialmente existencial
Que bebesse na fonte da vida, magia
E no verdadeiro espírito da sabedoria
Que nunca fenece, pois é imortal
Algo que não demonstrasse em primeira mão
Apenas uma rima, um verso ou uma canção
Mais que forma, que estética, e harmonia
Mas, um conteúdo de extraordinário valor
A sublime intenção desta deusa poesia
De quem eu, agora, faço-me seu portador
E perdoe-me, caro leitor,
Caso eu não consiga, pelo menos,
Aproximar as minhas palavras
Da fome e da sede da sua história
Fica no fundo do coração
Uma esperança de que sirva de reconforto
Um cais para sua solidão, um seguro porto
Um pouco de amor destes meus singelos versos
Que por carinho, empatia ou devoção
Eu roubo desta minha poesia
E lhes ofereço sinceramente neste dia
Para construir contigo a sua alegria
Eu gostaria de escrever algo
Que não tivesse começo, meio e fim
Pois só assim, desta forma, enfim
Teria um sentido pleno, inacabado
Pois os amores que guardo no meu peito contido
São como da alma as janelas
Ou então duas retas paralelas
Que se encontram apenas no espaço do infinito
Desejo-lhe amigo e querido leitor
Razão da minha literária existência
Em pleno gozo da minha consciência
Por meio destes escritos antigos, meu pergaminho
Que possa encontrar o seu tão perseguido caminho
(Que eu até hoje, busco encontrar)
E que você descubra esse xifópago amor
Que eu tenho com os versos,
Seu mundo e seus universos
Do qual nasci e aprendi a amar.
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
23 de novembro de 1984
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