O viver e o gosto de viver

Pensar que passam os meus dias, com pontos de sombra,

mesmo com a luz descida do céu.

Que a solidão cresce de ausência

e o peito fica oco.

Uma garça distraída pousa sobre galhos de folhas secas

e aninha sorrisos em fatias.

O olhar flutua, e a brisa bate nas pálpebras vazias.

Vadias,

são as horas do dia que marcam o desaprumo.

Perco o rumo

e o vento empurra um sopro contra mim.

Passado e futuro envolvem a minha viagem de fado

porque ainda me fica o desejo de paz,

o prazer da vida e o gosto da palavra.

Uma luz renovadora me ilumina.

Fica-me também a vocação de voo

e o encontro deixa-me embalado pelo desejo.

Peso os meus anseios na balança dos sonhos.

Quero resgatar o que me é essencial.

A rosa que perfuma

o fruto que alimenta

a brisa que renova

e a árvore das músicas.

Quero sentir o sol a partir do teu olhar

e por trás da chuva confessar meus sentimentos.

Que o nosso amor vibre a união das células,

juntas e paralelas.

Meu amor tem cheiro de dimensão,

de floresta

e me embriaga, me arrasta, ajusta-se ao meu espaço.

Também me fascina

e me conduz até o próximo encontro.

Encanto. Destino.

Hino. Espanto.

Me arrumo fogoso

na alvura do novo,

que virá.

Teus ossos compõem o esqueleto dos meus passos,

a cada manhã

a tarde dança a esperança.

A noite, a bilha na janela, esfria a água de beber.

A madrugada sacia a sede do meu lembrar.

A vida dá rumo ao pássaro na revoada

e a poesia ri.