Caminharei o meu céu

Tuas mãos atiçam as minhas lembranças

E me vejo numa esquina debaixo de um poste de luz.

A calçada, como um espelho, reflete o amor que ainda sinto.

Antes, seu rosto mostrava um sorriso suave, vestido de sempre.

Hoje, meu coração palpita perguntas!

Por quê ela dizia que me amava?

Que espécie perversa é essa de amor que machuca?

Que esmurra a presença e os afetos?

Que beija antes pra depois ferir.

Suas manhãs me olhavam de frente

Suas tardes, o meu anúncio

E as noites, davam sentido à vida.

Sinto muita falta do que me parecia ser eterno.

No amor o que importa é o significado.

Desprezo o que falta para valorizar o que existe.

Andar de mãos dadas e escutar a vida, com som de ir adiante

E esperar que a luz transponha os muros, que agora me encobrem.

Meus olhos parecem dois recortes colados no rosto,

Rosto que parece um tapete que o tempo pisa e enruga.

Até que as estrelas reflitam a sua luz nas minhas águas.

Até que a vida pare de me afogar.

Ainda caminho do lado de fora, com passos desajeitados.

Até que uma porta se abra,

uma porta que me permita voltar a mim.

E que nada mais me atrapalhe,

nem meus fantasmas vestidos de fuga.

A desesperança vaza pelas brechas do destino.

E tudo voltará a ser como foi um dia.

Caminharei o meu céu, com as nuvens grudadas nos pés.

Até o fim.