A ASA ME FEZ VOAR
I
Que jamais me aconteça
Outra vez aquela cena
Saquei da arma sem pena
Sem pena e sem cabeça.
Por incrível que pareça
Sem cabeça e sem pensar
Sem pensar, sem perdoar.
Feri a asa e o peito
A causa fez o efeito
E o peito poi-se a chorar.
II
Por isso troquei de lar
Mudei também meu conceito
De amar perdi o jeito
Perdendo o jeito de amar
A arma sem perdoar
Tirou minha liberdade
Pondo-me atrás da grade
Atrás da grade e no chão
Rasgando meu coração
Para implantar a saudade.
III
Saudade, quanta saudade.
Saudando o meu coração
Pois não existe a razão
Entre a vítima e o culpado
Trilhando o caminho errado
Não tive percepção
Vaidade e ilusão
Desviou-me da verdade
Na pena, a crueldade,
Não tem dó nem compaixão.
IV
Sem medir minha razão
Travei a luta na arena
E pra pagar minha pena
Eu fui rasgado e ferido
E sem fazer alarido
Beijei a terra e o chão
Tomei a pena na mão
Como a presa firma a garra
No peito enfrentei a barra
Tomei uma decisão.
V
Fazendo a ocasião
Na pena peguei a pena
Onde escrevi sem pena
De consciência na mão
Busquei minha redenção
A pena me fez pensar
E naquele almejar
Tracei a trilha de casa
A pena tornou-se asa
A asa me fez voar.
VI
Bati asas sem cessar
No mais alto que havia
Voei de noite e de dia
Tentando me equilibrar
E quanto mais fui buscar
Mais ganhei a liberdade
Descobri a humildade
Que antes eu não conhecia
Pois ela é quem propicia
O caminho da verdade.
VII
Chegando a Felicidade
A asa bateu no peito
Quebrada da tempestade
Limpando o pranto no leito
Harmonizando com jeito
O leito da nova casa
Meu corpo tornou-se brasa
A brasa tornou-se fogo
No fogo eu fiz um rogo
Do rogo sarou-me a asa
VIII
Tomando a pena da asa
Tracei a regra do jogo
Atirei-me sem malogro
Pus-me a acreditar
E bati asas sem pena
Sofri, mas valeu a pena.
Valeu a pena penar
Da fortaleza de brasa
Voando voltei pra casa
Voei de volta ao meu lar.