Com Algas nos Ombros

Voltei do fundo do mar,

Pós muito tempo por lá.

Mais uma vez emergi,

Lotado meu samburá

Trouxe um montão de fraquezas,

Tormentas, julgamentos, incertezas

Mais uma vez chego aos escombros,

Com muitas algas nos ombros.

Me vejo a caminhar nessa terra

Estranho muito, a tudo e a todos

Parece que houve uma guerra

Entre os superficiais e os tolos

Estranho mais ainda a eu próprio

Me vejo reflexo da água, cansado

Pareço mais velho, mais óbvio

Rendido, de braços levantados

É o futuro, não quero vê-lo chegar

Não por ser duro, não pelo tempo,

Mas por me impedir de sonhar

Por coibir todos os meus intentos

E me perdi no passado, tanta a saudade

De coisas que não foram bem assim

Chega quase esqueci da felicidade

Prometida pra hoje, guardada pra mim

Hoje faço uma sangria de palavras

Nas veias abertas da minha dor

O objetivo, aplacar a vontade

De fugir, de voar sem ter asas

Se corro de tudo, não podendo correr.

Hoje procuro despejar nessas linhas

Mesmo não sabendo, mas querendo saber

Faço pra deixar as emoções sozinhas

Na esperança que elas aprendam

A me deixarem em paz

Pra quando eu tiver que sofrer,

Não seja pelo que ficou pra trás,

E sim pelo que tiver pra viver

Mas dentre tanta coisa catada

Das profundezas do mar da vida

Nessa incursão atarefada,

Trouxe com cuidado e guarida

Pérolas de pequenos gestos,

E momentos, e prazeres e olhares

Pequeno tesouro, meio aos restos

Avaliado em muitos milhares.