COMO EU QUERO O MEU IDEAL


Eu quero o meu ideal
Sem pé e sem cabeça.
Que ele ande rastejando
Numa estrada sem fim,
Toda cheia de espinhos,
Toda banhada em lama.
Que ele lute sem razão
Por uma causa tão justa.

Eu quero o meu ideal
Impossível ao crente,
Louco ao normal,
Irreal ao realista,
Falso ao justo,
Em preto-e-branco
Ao sonhador maior.
E que tenha de tudo:
Alegria, dor, pranto,
Tristeza, sorriso,
Amor, paz, esperança,
Guerra, ódio, saber...

Que ele lute, e não chore,
Que corra, e não pare,
Que seja, e não seja,
Que aja, e não pense,
Que use, e não se gaste,
E muito mais ainda:
Que busque sempre mais
Depois de tudo,
Sempre o princípio
Depois do fim.

Que ele seja tão bravo
Qual um bicho-do-mato
Que entra à noite em cemitério,
E não teme das covas estreitas
O pavor que se acentua.
Que ele tire das trevas
O porquê da luta,
E seja mágico às negações
Da vida: transforme
O não no sim, o nada
No tudo e a morte
Num ideal que viva.

Eu quero que o meu ideal
Seja não somente a razão,
Mas que seja bem maior
Do que a própria vida!
Aécio Cavalcante
Enviado por Aécio Cavalcante em 06/02/2007
Código do texto: T371984