Milagreiro

A agonia de um homem

Não começa quando ele trabalha,

Mas sim, quando ele recebe.

Quando o feijão não dá

E quando alguma conta fica para trás,

É quando ele resolve mudar de lugar

Em busca de esperança,

E está pouco irá durar.

É quando o choro da fome

Cede lugar a insônia,

E as preocupações tomam conta

De suas rezas.

Quando ele troca o dia pela noite

Ou quando ele nem percebe onde está.

E em pequenos pedaços

De folhas encontradas ao chão,

Escreve alguma prece,

Como quem pede

Por clemência e pão.

Tem dó! Pobre homem.

Tem dó!De viver.

Milagreiro de uma vida

Com direito a passagem só de ida,

E sofrer sem merecer.

Pois apenas os erros

São cometidos mais de uma vez,

Querer já não faz mais parte de você.

Nem a luz da lua

Dá-se ao luxo de lhe aparecer.

Não sabe mais o peso que tem

Seus passos e suas sombras que vagam,

Por algum lugar sem saber,

E perguntando-se,

Para que motivo viver?

Tem dó! Pobre homem.

Tem dó!De viver.

Milagreiro de uma vida

Com direito a passagem só de ida,

E sofrer sem merecer.