Oração de um Ateu
Peço ao artista que crie,
Transformando por seu talento,
Dando a realidade algo que justifique
A expressividade do belo em telúrico cumprimento.
Que o operário trabalhe sem exploração,
Colhendo os frutos da produtividade,
Regozijando fazer parte dessa estruturação,
Mais sem cair em pusilanimidade.
Mulheres e homens unidos além do gênero,
Sabendo das distinções sem necessitar contenda,
Unidos em um orgânico coito que gera provento,
Reconciliando a espécie tendo seus rebentos por oferenda.
O dinheiro e toda forma capital,
Seja desintegrada em prol do benefício social,
Nada mais de usura desleal,
Nem depauperamento por lucro desigual.
A Ciência que se desenvolva pela humanidade,
Gerando frutos que venham edificar o humano,
Seus cientistas aguerridos em algo além da egocêntrica personalidade,
As torturas de animais em experimentos, não mais toleramos.
O respeito mútuo seja a máxima dos indivíduos,
Sabendo da contingência de cada um,
Permanece a comunhão que a coletividade promove em uníssono,
Todos responsáveis por todos, um por todos e todos por um.
Que os racismos caiam por terra ou sejam sugados pelo solo,
Sem repúdios a qualquer dessemelhança de ordem orgânica,
Criando uma pasteurização de preconceitos tolos,
Ascendendo algo que diluirá inclusive as classes tirânicas.
A natureza continuará seguindo seu curso,
Independente da vontade humana, que a compõe mas não a sobrepõe,
Uma aliança em busca do harmonioso fazendo do homem, não mais num verdugo,
Evolução ou qualquer concepção transformativa que não se sirva de terríveis grilhões.
Desigualdade social arrefecida pela conscientização coletiva,
Pessoas agregadas pela humanização corriqueira,
Sem necessidade de autoridade considerada repressiva,
Festa da vida que no cotidiano é motivo para exaltações comemorativas.
Música brindando a utopia tornada real,
Saindo do campo abstracionista,
Sem o aval de qualquer ordem divinamente surreal,
Sendo o mérito realísticamente humanista.
Professores colocados em paridade com os alunos,
Não mais existindo arroubos arrogantes de saber,
O conhecimento sendo de domínio público,
Ninguém sabe porque o saber é de todos, assim se faz o nada-saber.
O passado torna-se a herança consubstanciando o que nos tornamos,
O presente é apresentado com gana em fazer acontecer,
Responsabilidade distribuída em nome de um criador humano,
Futuro como compromisso de um porvir que precisa proceder.
Ao organismo que se habitua aos improprérios vividos,
Ou antes resiste, até não mais ser passivo manter-se,
Recompondo a matéria tantas vezes recomposta para existirmos,
Seguindo uma lógica desconhecida na causa, mas o efeito percebe-se.
Ao cérebro, ainda tão pouco conhecido,
Que continue suprindo essa razão de ser,
Impelindo-nos a distinguir de outros seres vivos,
Não menosprezando os ditos não-humanos, esse é um dever.
Pensando sem agredir justificando irracionalismo,
Sentindo não mais com incontroláveis intolerâncias,
Captando a realidade apreendida desconstruindo o egoísmo,
Tendo no outro, em vez de adiversário, um aliado, pela sublime tolerância.
A medicina não será restrita aos grandes patrocinadores,
Teremos todos auxiliando os peritos na cura,
As doenças sendo amenizadas pela redução de tolos dissabores,
Enquanto as causadas por agentes infecciosos naturais, se resigna quando não subjuga.
Os livros não serão a necessidade, as palavras serão transmitidas oralmente,
Constante movimento de linguagem que não será fronteiriça,
Uma forma de entender que ultrapassa obstáculos construídos culturalmente,
Só o pensamento, pertencendo a um estado muito íntimo, teria sua captação restringida.
Mesmo tais individualismos não seriam perversos,
Aglomeram as dessemelhanças em prol da social semelhança,
Nada mais de tiranias por não entender o outro que assim como nós é diverso,
Apenas sentimento gregário dos que tem o auxílio mútuo desprovido de interesse mesquinho, como magnífica herança.