SEMENTE DE VIDA

Ela estava com medo, naquela escuridão.

As paredes a comprimiam.

A falta de espaço causava uma sensação de sufocamento.

A certeza de que não tinha forças a enfraquecia.

A cela se revestia de angústia.

Impossível se mexer.

A sensação do árido ao seu redor era a única coisa real.

Cansada de observar a dor

ela pensou que poderia superá-la de imediato.

Fracassou.

Lágrimas nasceram da sua impotência.

E a aridez se transmutou em fria umidade.

E a sua prisão ganhou a umidade como companheira.

Não se sabe quando, mas um dia ela decidiu

olhar para si além da dor, diariamente.

E sonhar...

Enquanto praticava aquele exercício

esquecia da sua condição de prisioneira.

E aos poucos algo começou a crescer em seu âmago.

E aos poucos aquilo que crescia internamente

impulsionava um crescimento de dentro para fora.

E ela começou a crescer dentro da sua prisão.

Às vezes ela acrediva que eram as paredes que estavam

fechando-se sobre ela.

Depois percebia, apavorada, que era ela quem se expandia

avançando inexoravelmente contra o invencível.

Então, num daqueles dias comuns em que tudo pode acontecer,

seu crescimento chegou a um ponto em que

o aperto do cárcere se tornou insuportável.

E ele — não ela — cedeu pela primeira vez.

Quem visse de fora nada perceberia

Mas o fato a fez explodir em alegria.

E o cárcere não pode conter aquela explosão de felicidade

e rasgou-se lhe deixando livre o caminho.

Ainda havia escuridão, mas se via luz lá em cima.

E lentamente e cheia de entusiasmo ela seguiu em direção àquela luz.

Estava findo o seu tempo de prisioneira da semente.

Sua nova vida de árvore dava agora os primeiros passos.

Em um breve futuro ela iria cumprir seu destino:

alimentar famintos de vida.

Leilton Lima
Enviado por Leilton Lima em 13/07/2009
Código do texto: T1698110
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