O SORRISO DO ESPELHO
Tenho escrito para mim, falado para mim, olhado para mim.
Tarefa extenuante, o salto nesse portal de incertezas e ocultos.
Quantas vezes o corpo não tremeu?
Quantas vezes não verteu suor frio na face?
Vi-me explorando essa escuridão,
sob a agressividade do silêncio.
Sozinho, pois uma simples companhia
afeta a realidade dos achados.
Nas mãos trêmulas, brilha a luz débil de uma candeia inconstante
Que, por vezes, se apaga quando eu mais preciso
e me obriga a voltar a reacendê-la.
E ao fazê-lo preciso ser zeloso até com as lágrimas,
por que lágrimas apagam chamas débeis.
E eu sigo explorando essa escuridão,
sob a segurança da determinação.
Sozinho, pois qualquer outro olhar distorce o insondável.
Assim, celebro vitórias.
Vendas são desvendadas.
Véus caem rasgados amaciando a rudeza do chão sob meus pés.
Belos eus começam a rasgar as paredes da prisão
e aspiram o cheiro que vem do mar.
É a candeia que mais se acende, ou eu que começo a ver melhor?
Ainda não sei.
Só sei que sou viajante do meu próprio oculto.
Explorador de minhas próprias forças.
Desbravador do meu próprio caminho.
Juiz da minha própria sentença.
Muitos poetas encontram poesia em seu próprio sofrimento.
Eu, ao contrário, busco no sorriso do espelho a poesia
e sigo escrevendo, por que é preciso,
a poesia de viver.