O MEU BARCO VIROU ...
Quando o barco virou ia tão manso,
tão calmo, tão tranqüilo,
que eu jamais suporia fosse aquilo
a véspera do fim ...
Cuidado, timoneiro !
também, por belo, é traiçoeiro o mar :
basta apenas que um desequilibre,
para o barco virar ...
Quando o barco virou, lançou ao fundo
o passado e o roteiro do futuro,
e, com eles, meu mundo.
Mas a amiga esperança, irmã-gêmea do amor,
reacendeu a chama interior
e agrilhoou, então,
O orgulho malferido nas cordas do perdão.
Quando o barco virou, o amor e a tolerância
devolveram-no à praia, novamente,
mas já bem diferente,
diferente demais do barco que partira :
a ingratidão na frente,
e o amor seguindo atrás ...
Quando o barco virou, anoitecia
- sempre anoitece quando os barcos viram !
E a onda, indiferente, trouxe à praia
o esquife de um sonho,
o amor despedaçado ...
E espumas brancas, de ternura virgem,
beijaram a quilha inerte.
E as graças ...
as garças nem notaram
que o meu barco virou !
Élton Carvalho