O MEU BARCO VIROU ...

Quando o barco virou ia tão manso,

tão calmo, tão tranqüilo,

que eu jamais suporia fosse aquilo

a véspera do fim ...

Cuidado, timoneiro !

também, por belo, é traiçoeiro o mar :

basta apenas que um desequilibre,

para o barco virar ...

Quando o barco virou, lançou ao fundo

o passado e o roteiro do futuro,

e, com eles, meu mundo.

Mas a amiga esperança, irmã-gêmea do amor,

reacendeu a chama interior

e agrilhoou, então,

O orgulho malferido nas cordas do perdão.

Quando o barco virou, o amor e a tolerância

devolveram-no à praia, novamente,

mas já bem diferente,

diferente demais do barco que partira :

a ingratidão na frente,

e o amor seguindo atrás ...

Quando o barco virou, anoitecia

- sempre anoitece quando os barcos viram !

E a onda, indiferente, trouxe à praia

o esquife de um sonho,

o amor despedaçado ...

E espumas brancas, de ternura virgem,

beijaram a quilha inerte.

E as graças ...

as garças nem notaram

que o meu barco virou !

Élton Carvalho

Élton Carvalho (em memória)
Enviado por Élton Carvalho (em memória) em 14/02/2008
Reeditado em 14/02/2008
Código do texto: T859529