Elegia à Amada Ausente
Ó musa etérea, que partiste cedo,
No limbo entre o sonho e a vigília quedo.
Teu vulto, qual miragem, me acompanha,
Mas teus braços, vazios, já não banham
Este ser que, em dor, por ti anseia,
No coração ferido que tateia.
Desde o berço, a vida me açoita,
Em lembranças e passos, a alma coita.
Golpes e agruras marcam minha face,
Mas teu olhar me trouxe nova fase.
Revolta antiga em silêncio se cala,
Pois tua luz em mim ainda fala.
Modernos tempos, antiga saudade,
Tua ausência cresce, qual cidade.
No espírito te guardo, etérea guia,
Neste mundo cruel, onde a alegria
Se esvai como tua imagem tênue,
Deixando-me mudo, alma exânime.
Amor que foi, que é, que sempre será,
Mesmo quando tua lembrança se esvairá.
No vazio do espaço que ocupavas,
Ecoam ainda as palavras que falavas.
E eu, poeta sofrido, canto em verso
A dor de um amor no tempo disperso.
Ó musa inspiradora, embora ausente,
Tua essência em mim permanece presente.
Neste mundo duro, onde mudo vagueio,
És tu, ainda, meu norte e meu esteio.
Que esta elegia seja testemunho
Do amor que, mesmo findo, ainda empunho.