Santa Face

Sob veste falsa, a virgem casta mente,

Com doce voz, envenena a alma da gente.

Chama-se pura, mas seu verbo é embuste,

Brinca com a fé, torce o que seduz e fuste.

Ela veste a face de anjo, mas dentro, é serpente,

Amor fingido, em corações entra rente.

Sob o manto santo, esconde o frio aço,

Que fere o peito, num golpe sem abraço.

A confiança, iludida, na trama engrossa,

Ó virgem falsa, que tua máscara endossa!

Como cera mole, tua face se desfigura,

E na escuridão, foge, deixando a dor que perdura.

Exalta-se ao mundo, como imaculada,

Mas, sob a pele limpa, há uma alma danada.

Assim morre a glória, assim perece o amor,

Enquanto reina a falsa virgem, no trono da dor.

Esta versão carrega a intensidade emocional e a linguagem carnal e introspectiva típicas de Augusto dos Anjos, acentuando o contraste entre a aparência de pureza e a realidade corrupta.

Cleyton Berkaial
Enviado por Cleyton Berkaial em 11/10/2024
Código do texto: T8171459
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