A máquina do tempo
O tempo chega em silêncio
E em silêncio a gente vai deixando ele ficar
Mas não fica, passa pela gente
E a gente por ele
Num moer e remoer de nunca se acabar...
Era noite quando te conheci
E caminhamos uns passos juntos
Mil, depois mais mil passos
E um de nós ficou com a túnica do outro...
É tarde, muito tarde para querer entender tudo
Muita coisa já esquecida,
Nas embrenhas do tempo,
Não podem mais ser conseguidas
Por mais que tentemos lembrar
A coisa já está pra sempre perdida
Mas nosso eu continua,
Apesar de nós
Da nossa falta de vontade
De ser um sonho que não se realizou,
E tudo fica onde sempre fica
Dentro de nós
Apesar de qualquer dor
Ou felicidade...
Felicidade, quem a tem? Essa perdida
Que não se deixa prender por nada
E nossa alma abatida
Não a consegue ter continuamente
Porque a tristeza, e outras coisas afins
Também fazem parte da vida...
Quem consegue viver sem sentir uma dor
Sem não esquecer de dessabor
Que engolimos em horas que se revelam
Ao nosso ser
Sem esperamos que se realizassem ali
Em nós
Nos mudando para sempre
A uns deixando mais céticos
A outros com uma visão mais desiludida...
Eu sei que o futuro é isso sempre chegando,
E vejo seus espectros se aproximando
Mas eu muitas vezes viro a cara para todos eles
E meu ser fica ruminando
No futuro coisas já passadas...
Não verdade nada passa,
Nada se acaba
Nada termina, nada...
A alegria que senti num perdido momento
De um desfeito dia
Continua aqui comigo
Assim como a solidão
Que invadiu meu coração
O enchendo de sombras, densas e úmidas,
Também jamais me deixou...
E pensar é coisa que não se governa,
É muito pobre que apenas pensa o que está acontecendo,
Eu penso tudo
As coisas que vou vivendo
As que vivi
E as que ainda vou viver,
Isso é o tempo todo
Mesmo que nada do que pensei viver
Realmente me aconteça
Mas já as vivi só de as saber
Como elas seriam
E foram
Dentro dessa mente que não se deixa sistematizar,
Aqui não há engrenagens,
Aqui nem sei o que há...
E assim,
Muitas vezes autômata de mim mesmo
Chego onde não planejei chegar
E penso coisas que não queria pensar
Quem pode controlar o coração
Grande de se imaginar?
Amigos, amigos, eu não sei dizer o que fazer,
Eu mesmo não sou eu que vou me fazendo
As coisas vão acontecendo
Mas a promessa é de que um dia,
Um indefinido dia
Tudo vai se ajeitar...
Mas eu mesmo,
Eu mesmo tal como resulto de tudo,
Eu mesmo,
Eu não sei o que é isso,
Eu mesmo...
Parabéns para você que conseguiu se definir
Como numa fórmula eterna...
Eu amo mais as miragens
As loucuras
Os gestos Quixoteanos...
Olha ali um exército de malvados
Aprisionando um donzela!
Monto no meu porco,
Lhe ativo as ilhargas
E como um touro
Nós dois corremos...
Para onde?
Não sei, a donzela era uma mentira
Os malvados não,
Há que ter muita força
Pra lidar com toda essa gente
Que não vive sua própria vida
Mas vive de perseguir outras gentes...
São pobres
Miseráveis do espírito
Não frente de um espelho
Imagem alguma aparece...
Estou cansado, muito cansado, vou parar...
Mas não há um parar
Mas eu gosto dessa ilusão
Como aquela de inexistir quando o sono vem
E vence nossa vigília
E o corpo cai...
Vou parar, agora sim,
É como morrer, dormir
É tão bom morrer...
É um nascer do outro lado da vida,
Toda vez que meu corpo não mais em pé se aguentou...