Orfeu e sua estátua

Vagueio perdido e esquecido

Na farsa que um dia fui.

Minha estátua cobre-se de pó.

As imagens que dei as pessoas

Se restavam apenas aos devaneios

De uma esperança que se esvaiu.

Não deixarei um legado digno

Nem uma lira posta ao passageiro.

Em frente à minha estátua, escondo meu

Rosto pela vergonha de ser, não ser.

A estátua estática me prende

Em um sonho que nunca viu a aurora.

Minha estátua não foi feita

Pelas minhas musas-ideias,

Mas fora feita nos olhos de esperança

Que tiveram sobre mim e minha lira.

Visto isso, olho para meu rosto

Em uma poça de lama.

Não enxergo mármore. Enxergo melancolia.

Meu reflexo demonstra um bufão

Ante o deus que a estátua revelava.

A imagem era um passado célebre

Que construiu os séculos e o mundo,

Mas o destino, esse argonauta do tempo,

Fez de mim o que quis: pôs abaixo

Minha aurora e deixou este crepúsculo –

Deixando assim, meu legado e meus sonhos

Renegados a um fardo que nunca carreguei

Grande Orfeu
Enviado por Grande Orfeu em 23/02/2024
Código do texto: T8005444
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