Por que fizeram isso com o velhinho,
Coitado, exposto em praça publica,
Não pode nem ver direito,
Seus óculos não têm lentes,
Os aros são de bronze,
Ninguém fala com ele,
Todo mundo muito apressado,
Todo mundo muito ignorante,
Ah, por que fizeram isso com o velhinho?
Rancam seus óculos com violência,
Os vendem como ferro velho,
Mijam em seu pé,
Agridem-no com a falta de intimidade,
Coitado do velhinho.
Passa dias olhando a rua,
Protegendo toda a cidade
Com seu silencio pacifico
Ouvindo muitas vezes relatos
Incomunicáveis aos amigos,
Aos parentes, aos padres de igrejas.
Ali sem poder mais voar
Em corpo de chumbo pesado
Sua poesia não o choca mais,
Ah essa face botulínica ao extremo.
Por que, Luís,
Por que fizeram isso com o Velhinho,
Entregam-no a homens brutos
Mal-humorados de unhas quebradas
Que queimam-no na altura do ouvido,
Salpicando suas cãs
Sem que lhe dispense nenhuma palavra,
E com carícias de alicate
Maçaricos e luvas de distanciamento
Tocam-no o rosto idoso duro,
Colocando-lhe óculos impráticos,
E lhe condenam a impossibilidade do tato
Ah, em terra que nem é mineira,
Nem Itabira
Ele olha, mas é sem saborear
O Movimento Eterno da Máquina do Mundo...
Até mais Velhinho.
31.10.2012