Por que fizeram isso com o velhinho,

Coitado, exposto em praça publica,

Não pode nem ver direito,

Seus óculos não têm lentes,

Os aros são de bronze,

Ninguém fala com ele,

Todo mundo muito apressado,

Todo mundo muito ignorante,

Ah, por que fizeram isso com o velhinho?

Rancam seus óculos com violência,

Os vendem como ferro velho,

Mijam em seu pé,

Agridem-no com a falta de intimidade,

Coitado do velhinho.

Passa dias olhando a rua,

Protegendo toda a cidade

Com seu silencio pacifico

Ouvindo muitas vezes relatos

Incomunicáveis aos amigos,

Aos parentes, aos padres de igrejas.

 

Ali sem poder mais voar

Em corpo de chumbo pesado

Sua poesia não o choca mais,

Ah essa face botulínica ao extremo.

Por que, Luís,

Por que fizeram isso com o Velhinho,

Entregam-no a homens brutos

Mal-humorados de unhas quebradas

Que queimam-no na altura do ouvido,

Salpicando suas cãs

Sem que lhe dispense nenhuma palavra,

E com carícias de alicate

Maçaricos e luvas de distanciamento

Tocam-no o rosto idoso duro,

Colocando-lhe óculos impráticos,

E lhe condenam a impossibilidade do tato

 

Ah, em terra que nem é mineira,

Nem Itabira

Ele olha, mas é sem saborear

O Movimento Eterno da Máquina do Mundo...

 

Até mais Velhinho.

 

31.10.2012

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 16/12/2023
Reeditado em 16/12/2023
Código do texto: T7955597
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