As terras de Orfeu
Canto III
Viajei nas loucuras.
Pisei nos cosmos dos rostos.
As teogonias descrevem-me:
Lusco-fusco de corpo,
Crepúsculo dos vícios,
Alvorecer dos homens.
Nas terras que andei,
Odiei aquelas que não criei.
Terras cujos confins vem
De outras teogonias.
Teogonias mesquinhas e rasteiras.
Teogonias que criam Canaãs e Babéis.
Canaãs que construí, reergui e destruí.
Babéis que ergui, alucinei e derrubei.
Nas Babéis, na língua de minha lira,
Deus com seu maior pecado:
O seu amor pelos homens;
Veio, com seu atroz golpear tortuoso,
Destruir minhas Babéis.
Babéis que eram meu pórtico.
Pórtico de minhas lágrimas
Vertiginosas, agudas e túmidas.
Lágrimas que penetram terras;
Terras de minha deusa Gaia.
Terras de areais que chorei,
Em viçosas terras que andei.
Choro em lágrimas perpétuas.
A minha voz lacrimeja nacos infinitos
De pesares e dores que acumulei.
A voz infinita preenche solos que sonhei,
Nos areais que chorei.
Nas terras que andei.
Nas verdosas sementes que plantei.
Lá nas terras e teogonias que criei.