APENAS VASILHAS
APENAS VASILHAS
Aqui, nós todos estamos treinando,
Mesmo que a espada nos transpasse,
Como eu tive o corpo transfigurado,
Quando a bala rasgou meu disfarce.
Nossos corpos são apenas vasilhas,
Onde a gente deposita nossos atos,
Até que o barco chegue às Antilhas,
Ou se afunde em meio ao mar alto.
Nesse pleno e profundo oceano,
Nada é sólido, senão meus enjoos,
Se em mente pode haver pelicano,
Mas só albatroz socorre meu voo.
Minha arca ainda vai ser construída,
Pois tem anúncio de um novo dilúvio,
Que virá sem chuva, mas neve fluída,
Pela ganância de um ser tão volúvel.
Eu talvez não alcance essa tragédia,
Mas qual hora é um marco escondido,
E por isso eu prefiro as comédias,
Mesmo quando o meu choro é contido.
Tenho pena de enfrentar minha morte,
Já que a vida é uma etapa tão cara,
E quem sou eu ao querer outra sorte,
Se nem todos puderam ver minha cara.
Sou somente feliz, senão estraga,
Pois a tristeza eu quero bem longe,
Onde quero ser como mesa de tábua,
Onde come não só rei, mas um monge.