Não saberás

Entre os escombros de minha vida

Lutando com minha alma ferida

Já não guardo muitas ilusões

Nos espinhos vejo abrir antigas cicatrizes

Vejo abrir imensas e novas lesões

Quem me olhar talvez não veja

Nem sequer perceba

Por serem feridas profundas

Não visíveis neste mundo

Cujos olhos apenas vêem

Coisas não fecundas

Que se encaixam no que se tem

Não verás por sobre a pele

Terás que penetraram

Mergulhar no mais profundo

Invadir pelo olhar

Terás que se despir

Para poder me sentir

Abrir mão de tua pele

Cobrir-se com a minha

Ter nas veias os meu sangue

Renegado ao se ver parir

Terás que rasgar teu peito

Deitar no frio leito

No abandono recém nascido

Sair do teu belo mundo

Mergulhar na escuridão

Na mais completa solidão

De quem no choro se vê acordar

Sem um abraço pra se consolar

Ver-se só

Indigente de afeto

Mendigo de amor

Esperando dia a dia

Por alguém que já se foi

Mas não se foi depois de estar

Foi sem nunca vir

Nunca se fazer existir

Terás que sentir-se morto

Com a vida rasgando em ti

Te fazendo um zumbi

Que não encontra o caminho por onde ir

Terás que ver a beleza

Ter em seus olhos o oceano

E mesmo assim ter revelado

A beleza de um mundo

Que não aceita você

E não pense que assim termina

Minha miserável rotina

De todos os dias acordar

E não ter ninguém a te olhar

Uma mão a te levantar

Um sorriso pra te acalmar

Uma palavra pra te ofertar

Uma única razão

Um fiozinho que ao coração

Daria a esperança

Que era tudo só um tempo

Que logo esses momentos

Iriam terminar

Não te dei nem a metade

Das feridas que minha alma invadem

Mas acredite:

Em palavras não terás

Nem uma pequena ideia

Do que são os meus dias

Por isso tuas palavras

Não conferem a mim nada

E mesmo que me tragam

O amargo de perceber

Que de mim

Também não cuida você

Sigo, entre as sombras

Povoadas por minhas lágrimas

Segregada ao silêncio

Na loucura desses momentos

Onde ainda alimento

A esperança de ser

Não mais abandonada

Mas, quem sabe

Um dia muito amada

De tal forma a poder

Sentir mais que uma presença

Me sentir importante

Pra assim deixar de ser

O que fica pra depois

Quando não mais existe o que fazer

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 10/09/2021
Código do texto: T7339494
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