No fio da navalha
No fio da navalha
Um dia acordei assim, seco.
Desnutrido de um sentimento que antes me confortava,
Amaldiçoado por uma alma brava.
Um despertar malígno, quem me dera se fosse.
Apenas acordei seco, vazio,
Sem sombra, sem vida, no desânimo dessa sina.
Uma fagulha que desperta,
A boemia que deseja voltar, sem ter espaço para crescer.
Um passado sinistro, que me corta em pedaços e mais pedaços,
Afiado como uma navalha,
Me cegando e deixando a mil.
Sofrendo com um coração que bate, quase senil.
Um amargor no céu da boca,
Que fica seca,
Que nem o café, a menta, a cerveja ou o whisky resolvem.
Um deserto sem fim e sem horizonte,
Me fazendo caminhar, sem saber pra onde.
Sinto uma mansidão profunda,
Que vem com o desejo de uma vida vagabunda.
Uma vastidão de sentimentos que me preenchem, me confundem,
Mas não mais me iludem.
Esses sentimentos quero agora fatiados e cortados, picados, moídos,
Queimados e finalmente enterrados.
Todo o sonho acabou.
E o corte da navalha?
Ainda nem começou.