Uma carta e os óculos escuros
A carta sobre a mesa
O bilhete último
buscando leveza
Os óculos escuros: uma maneira de esconder os olhos
pra não ver que a humanidade tropeça
Fingir que está tudo bem
é compactuar com as mentiras
vendidas em redes sociais
E perguntaram o que habita a minha cabeça
Agora, com o peso nos ombros,
o cansaço do mundo,
o fastio do Brasil,
não saberia responder
Mas ontem eu tinha borboletas na cabeça
Voos certos, sem pressa
Sonhos prontos para virarem realidade hoje
No entanto, a vida é sempre um drible,
uma surpresa na esquina
Aldir já nos dizia da esperança equilibrista
E eu lembrei do Brasil de ontem
de coturno e traje verde oliva
E hoje ainda vejo a ignorância ganhar as ruas
com trompetes de insensatez
Desumanizamos tudo
Agredimos tanto
E agora a estúpida certeza
de que falhamos como espécie
Sugamos tanto a natureza
que agora ela cobra as ofensas
E há um desencarne absurdo e absoluto
a cada dia
Muita gente dizendo adeus pra esse Brasil
que descarrilha em discursos de ódio
e falta de empatia
E eu luto, luto, luto
E peço arrego com essa poesia
Agora enquanto escrevo
alguém xinga pela rua
E eu, sem forças, sigo estatelado no sofá
O mundo parou
e eu já desci
esperando o próximo trem
que nos salve!